Uma análise de imagens de satélite do jornal americano New York Times mostra que os Estados Unidos miraram Fordow, uma instalação subterrânea de enriquecimento nuclear do Irã, precisamente em locais de duas estruturas que, segundo especialistas, seriam poços de ventilação.
Segundo reportagem publicada pelo jornal no domingo 22, as estruturas eram visíveis apenas durante os estágios iniciais da operação da usina e puderam ser vistas em imagens de satélite em 2009. Em 2011, ambas já não eram visíveis. Especialistas disseram que poderiam ser poços de ventilação usados durante a construção da usina e, posteriormente, enterrados.
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No domingo, por volta das 2h10 da manhã, no horário local, um bombardeiro B-2 lançou as primeiras duas bombas de penetração, capazes de destruir bunkers, em Fordow, segundo o general Dain Caine, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA. Imagens de satélite tiradas na manhã de domingo mostram pelo menos seis aparentes pontos de entrada de bombas — dois grupos de três desses pontos — no solo da instalação, considerada impenetrável por qualquer bomba, exceto a usada durante a operação.
“Atingir um poço de ventilação faria sentido, porque o buraco para o ar já penetra na rocha espessa, interrompendo sua integridade”, disse Mark Fitzpatrick, especialista nuclear do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, ao NYT.
Nesta segunda-feira, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, disse que “espera-se que tenham ocorrido danos muito significativos” na instalação nuclear subterrânea de Fordow. “No momento, ninguém – incluindo a AIEA – está em condições de avaliar completamente os danos subterrâneos em Fordow. Dada a carga explosiva utilizada e a extrema sensibilidade das centrífugas à vibração, espera-se que tenham ocorrido danos muito significativos”, afirmou.
Em Natanz, outra instalação nuclear, sete B-2 lançaram 14 bombas. Imagens de satélite obtidas após o ataque americano mostram pelo menos um furo de penetração acima da instalação de enriquecimento subterrânea, de acordo com especialistas.
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Na mesma madrugada, um submarino dos EUA lançou mais de vinte mísseis de cruzeiro Tomahawk contra “alvos da infraestrutura de superfície” da instalação de Isfahan — o maior complexo de pesquisa nuclear do país e lar de milhares de cientistas nucleares, três reatores de pesquisa chineses e laboratórios ligados ao programa atômico do Irã.
Imagens de satélite após os ataques dos EUA mostram danos e destruição no complexo, com grande parte da área coberta por destroços e cinzas.
“Na instalação nuclear de Esfahan, outros edifícios foram atingidos, com os EUA confirmando o uso de mísseis de cruzeiro. Entre os edifícios afetados estão alguns relacionados ao processo de conversão de urânio. Também neste local, as entradas dos túneis usados para o armazenamento de material enriquecido parecem ter sido atingidas”, disse Grossi, o diretor da AIEA.
Grossi informou que, segundo o Irã, não houve aumento nos níveis de radiação externos em nenhuma das três instalações. Ele destacou que “ataques armados a instalações nucleares nunca devem ocorrer e podem resultar em liberações radioativas com consequências graves dentro e fora das fronteiras do Estado que foi atacado”.
Embora autoridades israelenses tenham afirmado que a usina de Isfahan foi “aniquilada” e instalações em Fordow e Natanz foram “severamente danificadas”, especialistas alertaram que impactos subterrâneos dependem de uma série de fatores, incluindo profundidade da detonação e a geologia do local.