O massacre e o banho de sangue no Rio de Janeiro são uma atualização do pior da história no Brasil. O número de mortos continua crescendo. Como um país pode ter essa política (de morte) de Estado contra a população negra e periférica?
A população sofre a opressão dos traficantes e das milícias. Mas o enfrentamento do crime deve proteger a população, não assassinar.
A única forma de dar certo é investir muito em inteligência policial. Cláudio Castro, o governador bolsonarista do estado, conseguiu produzir uma situação em que foram enfileirados corpos no complexo do Alemão e na Penha, com relatos de tortura e execução sumária de brasileiros sem direito a defesa ou julgamento.
Pulsos amarrados, corpos sem cabeça, tiro na nuca, facada são alguns dos relatos de testemunhas até o momento. A própria população teve que resgatar os corpos na mata da região conhecida como Vacaria.
Apesar disso, o governador, em entrevista nesta quarta, 29, elogiou a operação, disse que são 58 mortos – isso quando a contagem chega a mais de 130 – e que entre eles “só há quatro vítimas”, os policiais.
A vida dos policiais é valiosa e a dos moradores também. Agora se você, leitor, pergunta: são todos criminosos? Lembre-se de que o Brasil não tem pena de morte. E que o governo do estado tem a obrigação de identificar quem matou e porquê.
É simbólico que este massacre aconteça exatamente entre os aniversários de 50 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, nas dependências do estado ditatorial, e do ato interreligioso da catedral da Sé, que enfrentou a ditadura.
No sábado, 25, os filhos de Herzog, Ivo e André, estavam na mesma igreja, no novo momento histórico, entre cartazes em que se lia “a ditadura segue presente nas periferias”. De fato, estão submetidas à tirania do crime e à violência do Estado.
Nos bancos da catedral havia rostos de desaparecidos políticos da classe média branca durante o regime somados aos de negros mortos nas periferias.