No reduto dos amantes de cinema, o diretor Paul Thomas Anderson é uma entidade intocável — e seu novo filme, Uma Batalha Após a Outra, em cartaz nos cinemas, reforçou essa fama. O americano, autor de pérolas como Boogie Nights (1997), Magnólia (1999), Sangue Negro (2007) e O Mestre (2012), tem o hábito de fazer filmes longos, que trafegam entre o drama e a sátira, retratando dilemas familiares complexos, ambições exageradas, embates religiosos e políticos, e as peculiaridades do “american way of life“, o estilo de vida americano. A fórmula nada fácil — mas feita por ele com primor — chegou a um novo patamar na superprodução que traz Leonardo DiCaprio, Sean Penn e Benício Del Toro no elenco.
Bob, papel de DiCaprio, é um revolucionário de esquerda um tanto capenga que se descola da luta armada para se esconder com a filha. Dezesseis anos depois, ele continua sendo perseguido pelo coronel Steven J. Lockjaw, vivido por Sean Penn, um supremacista branco, ávido perseguidor de minorias, que anseia ser aceito em um clube exclusivíssimo de homens poderosos – e nazistas. De lados opostos e extremos do espectro político, eles têm em comum a paixão por uma mesma mulher (Teyana Taylor) – e a dúvida sobre quem é o pai da filha dela.
A trama mais do que atual começou a ser pensada por PTA (apelido de Anderson) há vinte anos, encontrando, agora, um terreno fértil e volátil para sua estreia. Com orçamento estimado em 130 milhões de dólares, o filme era tido como um risco para a Warner Bros., estúdio responsável pelo lançamento. Mas assim que saíram as primeiras críticas, a expectativa da empresa melhorou: elogiadíssimo, Uma Batalha Após a Outra vem sendo aclamado como o filme do ano — e forte concorrente ao Oscar.
Se esse calor ao redor do filme vai durar até a premiação não se sabe, contudo, ele realmente já cravou um lugar entre os melhores do ano. Com 2h50m de duração, o longa tem um ritmo frenético, cenas de ação criativas, um roteiro impecável e atuações hipnotizantes. Ao colocar os extremos se encontrando no meio do caminho — com uma adolescente como ponto de encontro –, Anderson reforça a mensagem diretas que suas produções, enormes e apuradas, no fundo querem passar: Uma Batalha Após a Outra fala sobre uma família — e o que acontece com ela quando ações externas interferem nas relações. Uma boa reflexão para a atual era dos extremos e desenhada em forma de entretenimento para ninguém botar defeito — nem à direita, nem à esquerda.