O Banco Daycoval publicou recentemente estudo sobre o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos e como esse fator atenua os efeitos dos riscos domésticos e externos sobre a taxa de câmbio. No momento, os juros elevados no Brasil, em comparação aos EUA, têm ajudado a manter o dólar sob controle, mesmo em meio a incertezas políticas, fiscais e externas. O relatório, porém, alerta que esse quadro pode mudar rapidamente a partir de 2026, quando se espera que o início do ciclo de queda da Selic coincida com o calendário eleitoral, deixando o câmbio mais vulnerável.
Segundo Julio Cesar Barros, economista do Banco Daycoval, o diferencial deve continuar a se ampliar no curto prazo. “Dado que permaneceremos com um diferencial elevado e bem acima do limiar estimado, o cenário deve ser de uma taxa de câmbio mais acomodada. Contudo, embora esse patamar atenue os efeitos dos riscos externos, eles não podem ser completamente desprezados, sobretudo em um ambiente de guerra tarifária.”
O que afeta o câmbio
O estudo mostra que a dinâmica cambial responde de forma distinta conforme o nível do diferencial de juros. Quando está baixo, o real se torna mais suscetível à volatilidade e reage fortemente a riscos internos e externos.
Já em momentos de diferencial elevado, o peso do risco doméstico praticamente desaparece e a influência do risco externo cai pela metade. Fatores como a valorização das commodities e a manutenção de juros altos no Brasil seguem favorecendo a moeda.
A expectativa é de que esse cenário continue até o fim de 2025, já que o Federal Reserve (Fed) deve cortar juros nos Estados Unidos enquanto a Selic deve permanecer em 15%. “Com a aproximação do período eleitoral, podemos ver maior oscilação a partir do segundo semestre de 2026. Atualmente, nossa expectativa para a taxa terminal de câmbio está em R$/US$ 5,75 para o final do próximo ano, mas o grau de confiança é baixo justamente pelo aumento das incertezas”, afirma Barros.
Importante destacar que a relação no fim do ano passado era a de que um dólar valia mais de 6 reais. Hoje, essa relação está em torno de 5,40 reais.
Em relação às commodities, o relatório destaca que, como o Brasil é exportador, a alta dos preços aumenta a entrada de dólares no país, fortalecendo o real. “Diante do cenário de guerra tarifária, nossa expectativa é de desaceleração da economia global, em especial dos EUA. Os preços das commodities também dependem de fatores de oferta, como clima e condições específicas de cada setor. Estamos trabalhando com a hipótese neutra de preços constantes das commodities em dólar no patamar atual”, completa o economista.