O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o mandatário dos Estados Unidos, Donald Trump, terão uma reunião por videoconferência nesta segunda-feira, 6. A informação foi confirmada à coluna Radar, de VEJA, por pessoas ligadas às negociações.
A possibilidade de um encontro foi levantada por Trump durante discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, no final de setembro, quando disse ter encontrado o petista rapidamente nos corredores da organização, citando até uma “química” entre ambos. Em sequência, o governo brasileiro confirmou interesse.
“Tive a satisfação de ter um encontro com o presidente Trump. Aquilo que parecia impossível deixou de ser impossível e aconteceu”, disse. “Fiquei feliz quando ele disse que pintou uma química entre nós (…) A relação humana é 80% química e 20% emoção, acho importante essa reação e torço para que dê certo”.
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Em meio as preparativos, auxiliares de ambos os países já alinharam algumas pautas de interesses comuns, incluindo exploração de terras raras, setor de etanol e tecnologia. Depois desse primeiro contato, segundo intercoludores do governo Lula, é que questões relacionadas às tarifas contra produtores brasileiros devem ser tratadas. A videoconferência seria, então, o início de contatos mais diretos entre Brasília e Washington.
A movimentação positiva, no entanto, se dá em meio à deterioração da relação entre ambos os líderes. O republicano acusa o governo brasileiro e o Supremo Tribunal Federal (STF) de liderar uma “caça às bruxas” a Bolsonaro, recentemente condenado a 27 anos e três meses de prisão pelo envolvimento na trama golpista. O ex-presidente foi considerado culpado por liderar ou integrar organização criminosa armada, atentar violentamente contra o Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado por violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado.
Em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, Lula não citou nominalmente Trump, mas criticou o uso “medidas unilaterais” e destacou que “nossa democracia e soberania são inegociáveis” e qualquer “agressão contra o poder Judiciário é inaceitável”.
Em retaliação ao trâmite judicial envolvendo Bolsonaro, o líder americano taxou em 50% os produtos brasileiros; sancionou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e sua esposa, Viviane Barci de Moraes, através da Lei Magnitisky, usada para punir estrangeiros acusados de violações graves de direitos humanos ou de corrupção em larga escala; e cancelou o visto de vários membros do STF, com exceção de Kassio Nunes Marques e André Mendonça, indicados por Bolsonaro, bem como Luiz Fux, que votou contra a condenação do ex-presidente.
Para o governo brasileiro, as sanções são uma “tentativa de ingerência indevida em assuntos internos brasileiros”, feita a partir de “inverdades”, e que “o Brasil não se curvará a mais essa agressão”.
“O recurso do governo Trump à Lei Magnitsky, no caso do Brasil, uma democracia que se defendeu, com êxito, de uma tentativa de golpe de Estado, não apenas é uma ofensa aos 201 anos de amizade entre os dois países. Representa também a politização e o desvirtuamento na aplicação da lei, como já manifestado recentemente por um de seus co-autores, o deputado James McGovern”, diz o texto publicado pelo Itamaraty.
Em entrevista ao jornal americano The New York Times em agosto, Lula definiu como “vergonhoso” o método de Trump de lançar ameaças a outros países através das redes sociais, criticando: “Quando você tem um desentendimento comercial, um desentendimento político, você pega o telefone, marca uma reunião, conversa e tenta resolver o problema. O que você não faz é cobrar impostos e dar um ultimato”. Embora tenha afirmado que o Brasil estava a aberto a negociações, destacou que não o faria “como se fosse um país pequeno contra um país grande”.
O petista voltou a criticar o tarifaço de Trump em um artigo de opinião publicado no NYT neste domingo, 14. Com o título “A democracia e a soberania brasileiras são inegociáveis”, Lula disse que decidiu escrever o ensaio para “estabelecer um diálogo aberto e franco com o presidente dos Estados Unidos”. No texto, ele salientou que “recorrer a ações unilaterais contra Estados individuais é prescrever o remédio errado” e que “o multilateralismo oferece soluções mais justas e equilibradas”.