O desenvolvimento de uma rede de hospitais privados de alta complexidade no Brasil é uma realidade. Contamos com estruturas hospitalares com recursos humanos e tecnológicos de padrão internacional, com qualidade reconhecida pelas mais renomadas consultorias de saúde do mundo. Os resultados do cuidado hospitalar mais qualificado, além da mortalidade intra-hospitar cada vez menor, é um número enorme de pacientes com permanência hospitalar prolongada, pela necessidade de estabilização e reabilitação de funções comprometidas pelo tratamento agudo.
Esses pacientes, em determinado momento, deixam de precisar de alta tecnologia e equipes especializadas em diagnóstico e tratamento, e passam a demandar por times multidisciplinares, capazes de traçar planos individualizados de readaptação e reabilitação de funções prejudicadas. Esta troca do “tech” pelo “touch” exige uma estrutura diversa do hospital de alta complexidade, que proporcione cuidado multidisciplinar com médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, terapeutas ocupacionais e psicólogos, e que ofereça atendimento integrado e personalizado.
Estas unidades são preparadas para oferecer suporte a pacientes que precisam de reabilitação motora, respiratória e neurológica. É uma estrutura desenhada para dar continuidade ao tratamento, mas também para devolver autonomia a quem está em processo de recuperação.
A transição de cuidado não é apenas uma tendência e sim um passo fundamental para recuperar a dignidade de pacientes que já não precisam de cuidados intensivos, mas ainda não estão prontos para voltar para casa. Manter essas pessoas por longos períodos em hospitais convencionais aumenta o risco de infecções, traz impactos emocionais e onera o sistema como um todo.
Este conceito hospitalar voltado à reabilitação, que no Brasil tem estruturas de ponta no setor público como o Sarah Kubitschek (DF, BA, RJ), e o Lucy Montoro (SP), começa a se estruturar no setor privado como forma de prover um cuidado mais custo efetivo aos pacientes do setor de saúde suplementar. Projetados como centros de referência em reabilitação e desospitalização, os novos espaços oferecem suporte necessário para reconstruir a independência do paciente, cercado de cuidado técnico e calor humano.
Em um ambiente seguro e acolhedor torna-se possível devolver o que muitos perderam no decorrer de longas internações: a esperança de voltar a viver plenamente.
Essa proposta é também uma resposta necessária à realidade atual. Com o envelhecimento da população e o aumento das doenças crônicas é urgente pensar em estruturas que aliviem a sobrecarga dos hospitais gerais, liberando os leitos para pacientes agudos, ao mesmo tempo que ofereçam suporte de qualidade a quem precisa de reabilitação física, emocional e social.
O Brasil ainda engatinha nesse modelo. Hospitais voltados à reabilitação e à transição hospitalar representam menos de 1% dos leitos no país, enquanto esse movimento já é consolidado em países como os Estados Unidos. Mais do que uma inovação, essa é uma necessidade que o sistema de saúde brasileiro precisa enfrentar com coragem e visão de futuro.
*Alfredo Cardoso é médico intensivista, ex-diretor da ANS e CEO Grupo Valsa Saúde