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O que dizem especialistas em montanhismo sobre o caso de Juliana Marins?

A morte da publicitária de 26 anos, Juliana Marins, gerou comoção nacional pela demora do seu resgate e o final trágico. Quando alcançaram a carioca, que havia despencado ao menos 600 metros na encosta do vulcão Rinjani, em Lombok, na Indonésia, era tarde demais. Sem vida, o corpo da brasileira foi retirado da encosta cinco dias após a queda. Entre os motivos da revolta da família, está a negligência do guia que acompanhava o grupo da turista, do parque e das equipes de resgate no país asiático. Especialistas de montanhismo e de turismo de aventura analisam a tragédia e alertam sobre os riscos que levaram à morte da jovem.

A primeira recomendação dos especialistas é estar acompanhado de um guia. “Ir sem acompanhamento profissional nunca é recomendado, já que podem haver diversos tipos de acidentes: falta de orientação do caminho, uma queda com fratura, uma picada de algum animal peçonhento, perda de equipamento pessoal, falta de comida e tantas outras”, afirma Gabrielle Monteiro, representante da Pisa Trekking, operadora de viagem de aventura e ecoturismo no Brasil.

Monteiro completa que “o ideal numa atividade como essa é ter um guia abrindo a trilha e outro guia fechando a trilha, garantindo que o grupo esteja sempre unido e nunca nenhum turista fique para trás sem supervisão profissional”. No caso de Juliana, que perdeu a vida na encosta do vulcão na Indonésia, relatos dos turistas que estavam com publicitária e do guia que os acompanhava, é que a jovem ficou momentaneamente para trás do grupo pois estava cansada. O guia avançou com o restante deixando a carioca para trás, segundo relatos.

Saber do repertório dos profissionais e as condições do desafio à frente também são essenciais: “Conhecer o local, quem são os responsáveis, qual seu nível de profissionalização e conhecimento, quais as informações relevantes, minhas condições físicas e que critérios devo adotar para as minhas escolhas, é a combinação necessária para realizar qualquer tipo de atividade de turismo de aventura, de forma segura”, diz Fernanda Dornelles, vice-presidente da ABETA (Associação Brasileira de Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura).

No Brasil, medidas de segurança regulamentam práticas de turismo de aventura. “Contamos com mais de 40 normas técnicas da ABNT, voltadas exclusivamente para o setor, entre elas a ABNT NBR ISO 21101 – Sistema de Gestão da Segurança, prevista em legislação nacional para o turismo de aventura. Esse arcabouço é fundamental para garantir a qualidade e a segurança das operações”, explica Vinicius Viegas, CEO da Nattrip, agência, operadora e DMC especializada em aventura no país.

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O conhecimento do destino, no entanto, tem que se alinhar com a imprevisibilidade da natureza local. Nesse sentido, Dornelles ressalta: “É importante frisar que, ainda que adotem todos os protocolos de segurança, as atividades de aventura, como as mencionadas acima, são suscetíveis às condições da natureza, tal qual as mudanças climáticas e alterações naturais.”

Ricardo Barros, diretor técnico do Clube Niteroiense de Montanhismo (CNM), da cidade natal de Juliana, reafirma o poder da natureza: “Eu gosto de comparar muito a o montanhismo, seja fazendo uma trilha, seja fazendo uma escalada, com surfe. Tem uma onda pequena, uma onda grande, as pessoas que entram no mar e os riscos estão ali expostos. Então a montanha tem mesmo tem os mesmos desafios naturais. A natureza não tem isso de não ter segurança. A gente não tem que rebaixar a natureza ao nosso desejo.

O preparo pessoal também é essencial. Barros ficou surpreso pela falta de recursos que Juliana se encontrava nos vídeos gravados por outros turistas e compartilhados. “Falando no âmbito especulativo por não ter todas as informações para comentar, mas me saltou os olhos que ela não tinha uma mochila, não tinha nada com ela. Não sei se ela não levou, ou deixou cair. Em uma situação como essa, um cobertor de emergência próprio é algo que a gente sempre indica, pois funciona tanto para frio quanto para calor e poderia estar com ela e ter dado uma sobrevida, quem sabe.”

O diretor técnico do CNM destaca, então, a responsabilidade conjunta neste tipo de empreitada: “As pessoas têm que se preparar para ‘fazer’ essa montanha. Ter o calçado adequado, água, comida, um kit primeiro socorros próprio. Agora a orientação do preparo vai do guia, é parte do profissional orientar as pessoas. É uma necessidade dos próprios guias reverem seus conceitos e rever essa questão: ‘Todo mundo pode ir, qualquer pessoa pode ir sem nenhum preparo?’. Infelizmente, a montanha não é democrática. A montanha é para todos, sim, desde que você se prepare para tal.”

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