Eternizada por Nathalia Timberg em 1988, tia Celina ganhou diferente roupagem na releitura de Vale Tudo, agora sob a interpretação de Malu Galli. A atriz, porém, evita comparações e prefere criar identidade própria da personagem. Inicialmente em segundo plano, Celina foi ganhando destaque e deixou momentos marcantes, em especial ao lado de Paolla Oliveira, 43, em cenas que Galli descreve como “profundamente afetivas”. À coluna GENTE, a artista comenta o tema da corrupção abordado no folhetim, reflete sobre o “tribunal” das redes sociais e revela de que forma o candomblé influencia no seu trabalho.
Vale Tudo fala sobre ética e corrupção, temas ainda muito atuais. O que mais te indigna no Brasil de hoje e que dialoga diretamente com a novela? A guerra de narrativas. Não só as fake news, mas a inversão da verdade. É muito angustiante perceber que parcelas da sociedade entendem a realidade por ângulos diametralmente opostos. Acho que neste ponto tem “valido tudo” para conseguir o poder.
Tia Celina já teve sua ética questionada ao se casar com um bilionário. Como enxerga a escolha da personagem: defende, critica ou procura não julgar? O julgamento não me cabe neste caso. Fazemos para o público, para que ele reflita, se identifique ou não, para que ele formule suas conclusões.
A sua personagem já foi interpretada por outra atriz marcante na versão original. Sentiu em algum momento o peso da comparação? Acho que não, pelo fato de a Celina desta versão ser muito diferente da outra, desde o início. Comparam as versões dela, não o trabalho das atrizes.
Quando recebeu o convite para Vale Tudo, qual foi o seu maior medo? Não tive medo. Fiquei feliz, adoro esta história.
Vale Tudo tem sido alvo de críticas. Como lida com isso? Procuro separar o joio do trigo. Existe um novo esporte virtual que é assistir à novela participando de um “tribunal” nas redes. É um exercício de entretenimento associado à novela. Mas continua sendo jogo, entretenimento. A vida real, neste caso, são os espectadores que assistem e não comentam nas redes. São muito mais pessoas. E com outros perfis.
Houve algum episódio nos bastidores desta novela que te marcou de forma especial? Eu e Paolla (Oliveira) fizemos cenas profundamente afetivas, onde nos emocionamos de verdade. Construímos isso juntas.
Recentemente, você celebrou sete anos de iniciação no candomblé. O que a religião mudou em você como mulher e artista? Me sinto mais complexa, mais aprofundada na percepção do mundo e das pessoas. Claro que isto se reflete no meu trabalho, mas de uma forma indireta, acho.
Na sua carreira, houve algum papel que recusou ou aceitou e que, olhando hoje, considera um erro? Tinha acabado de me iniciar no candomblé e aceitei fazer um filme no interior de Pernambuco, com diretor e equipe que eu não conhecia. Senti um chamado. E fui. Considero este filme, “Propriedade”, meu melhor trabalho no audiovisual até hoje. Foi uma feliz surpresa.
Você se considera uma atriz “ambiciosa” no sentido de buscar protagonismos e grandes papéis, ou prefere seguir uma carreira mais discreta? Nossa carreira não tem como ser discreta. Sempre buscamos bons personagens, desafios, boas chances para desenvolver e mostrar o trabalho. Isto não necessariamente tem a ver com protagonismo, mas com uma boa cena, uma boa história.