Nos últimos anos, a extrema direita promoveu um processo deliberado de apropriação dos símbolos que sempre pertenceram a todos os brasileiros. Foi sequestro mesmo. A bandeira nacional, a camisa da seleção, o 7 de Setembro, o próprio conceito de patriotismo. Tudo passou a ser tratado como propriedade exclusiva de um campo político.
Foi assim durante todo o governo anterior. As celebrações da Independência deixaram de ser cívicas para se tornarem atos de intimidação. O bicentenário virou palanque para discursos agressivos, fascistas e anti-democráticos do ex-presidente golpista. A mensagem era clara: quem não estivesse alinhado não era bem-vindo — e, mais grave, não era considerado “brasileiro de verdade”.
Esse processo criou um ambiente de vigilância simbólica. Qualquer palavra fora do script provoca reação imediata, desproporcional, quase histérica. A controvérsia em torno da propaganda das Havaianas segue exatamente essa lógica.
Ainda que indireta, a simples associação da marca com algo fora do campo conservador foi suficiente para gerar ataques, boicotes e confrontos verbais. Estamos falando de um chinelo.
A indignação não está no produto, nem na campanha publicitária. Está no incômodo de ver escapar o controle sobre símbolos que essa parcela significável da direita tentou monopolizar.
Quando tudo vira marcador ideológico, até um item como uma sandália usada por milhões de brasileiros de todas as classes e posições políticas passa a ser tratado como território em disputa.
Não cola a ideia de que patriotismo se mede por camiseta, slogan ou marca. Mas é isso que o bolsonarismo quer. A disputa pelas Havaianas continua nas redes enquanto a virada para um ano eleitoral se aproxima.
PS – Obrigado, Fernanda Torres.