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O que a canela pode fazer pela saúde? Estudo analisa efeitos da especiaria no peso e doenças metabólicas

Polvilhada no mingau, naquele arroz-doce, na canjica ou mesmo em chás, a canela é uma especiaria que costuma ser a “cereja do bolo” de alguns pratos doces e até salgados. Mas, para além da cozinha, é um ingrediente que há tempos habita o imaginário popular como um possível aliado da saúde. Foi justamente essa ideia que um estudo publicado na revista científica Frontiers in Nutrition buscou investigar: afinal, essa especiaria aromática, conhecida por seus antioxidantes, pode ser mesmo benéfica para pessoas com condições metabólicas, como diabetes?

Nesse caso, os pesquisadores não fizeram um experimento isolado. Eles fizeram uma revisão “guarda-chuva”, método que avalia resultados de várias revisões sistemáticas e meta-análises já publicadas. Na prática, os cientistas reúnem tudo o que já foi produzido e fazem uma análise geral desse conjunto de evidências.

O trabalho reuniu 21 pesquisas, todas baseadas em estudos clínicos com adultos diagnosticados com doenças metabólicas. Entram nessa lista condições como diabetes tipo 2, síndrome metabólica, hipertensão, fígado gorduroso e síndrome dos ovários policísticos.

Em todos os estudos analisados, a canela foi usada como intervenção isolada (cápsulas, extratos ou pó), e sempre comparada a placebo. As doses variaram bastante, de 0,12 g a 6 g por dia, e o tempo de acompanhamento foi de 1,5 a 12 meses.

Os pesquisadores avaliaram indicadores bastante conhecidos, como glicemia de jejum, hemoglobina glicada (HbA1c), colesterol total, LDL (“colesterol ruim”), HDL (“colesterol bom”), triglicérides, pressão arterial, peso corporal e índice de massa corporal (IMC).

Os principais achados

O resultado mais consistente apareceu no controle do açúcar no sangue. De forma geral, o consumo de canela esteve associado a uma redução significativa da glicemia de jejum, especialmente em pessoas com diabetes e síndrome metabólica. O efeito foi considerado estatisticamente robusto, com resultados semelhantes entre diferentes estudos.

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Também houve melhora nos perfis lipídicos, com reduções do colesterol ruim e dos triglicérides em parte das análises. Em alguns casos, o colesterol bom apresentou aumento discreto.

Outro ponto observado foi uma possível melhora na resistência à insulina, medida por um índice chamado HOMA-IR — embora, nesse caso, os resultados tenham sido menos consistentes e mais heterogêneos.

Quando o assunto é pressão arterial, peso e IMC, os efeitos foram modestos. Alguns estudos apontaram queda na pressão sistólica e pequenas reduções de peso, mas esses achados não se repetiram de forma uniforme.

Vale ressaltar também um dado curioso do trabalho: doses mais altas (acima de 1,5 g por dia) e intervenções mais curtas (até dois meses) pareceram gerar resultados mais evidentes, especialmente no controle da glicemia. Em estudos mais longos, os efeitos tendiam a diminuir ou a perder significância estatística.

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Isso, segundo os autores, sugere que a canela pode ter um impacto mais rápido e pontual, e não necessariamente cumulativo ao longo do tempo.

Nem tudo são certezas

Apesar dos resultados promissores, os próprios pesquisadores adotam um tom cauteloso. Um dos principais motivos é a grande variação entre os estudos, que envolvem tipos diferentes de canela, doses variadas, populações distintas e métodos nem sempre padronizados.

Além disso, muitas associações foram classificadas como de evidência fraca ou sugestiva e não como conclusivas. Em várias análises, os pesquisadores identificaram sinais de viés de publicação, quando estudos com resultados positivos têm mais chance de serem publicados do que aqueles sem efeito.

Outro ponto importante é que a maioria dos estudos teve tempo de acompanhamento curto, o que impede conclusões sobre segurança e eficácia no longo prazo.

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Para os autores, os achados também funcionam como um freio em discursos mais entusiasmados. A ideia de que a canela teria um efeito direto e consistente sobre o emagrecimento, por exemplo, não encontra respaldo sólido no conjunto das evidências analisadas. Quando houve perda de peso, ela foi pequena e irregular.

Por isso, o estudo deixa claro que a canela não deve ser encarada como tratamento principal para doenças metabólicas. No máximo, ela pode atuar como terapia complementar, sempre associada a acompanhamento médico, alimentação adequada e uso de medicamentos quando indicados.

O que falta saber

Os autores defendem que o próximo passo da ciência é investir em ensaios clínicos maiores, mais longos e melhor padronizados, capazes de esclarecer qual tipo de canela funciona melhor, em que dose, por quanto tempo e para quais perfis de pessoas.

Até lá, a canela segue no lugar que a ciência considera mais seguro: um ingrediente tradicional, com potencial metabólico interessante, mas longe de ser uma solução milagrosa.

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