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O PT sem Lula

O fim da era Lula está induzindo o Partido dos Trabalhadores a um inédito debate sobre o próprio futuro. Quatro candidatos disputam a presidência do PT na eleição deste fim de semana. Eles convergem na certeza de que é preciso definir um novo rumo. Divergem sobre qual deve ser o caminho.

PT sem Lula nas urnas é uma perspectiva quase inimaginável para gerações de petistas que atravessaram os últimos 45 anos cultuando-o como fundador, líder e candidato presidencial permanente.

Visto da encruzilhada, o horizonte parece difuso aos candidatos. Sobram dúvidas sobre o significado da palavra governabilidade num cenário político novo, de desidratação da Presidência da República e concentração de poder no Congresso.

Discretamente apoiado pelo governo, o sociólogo Edson Silva, 60 anos, ex-prefeito de Araraquara (SP), cumpre um roteiro de moderação no embate pelo destino partidário. “Não adianta só criticarmos o que está aí”, tem repetido nas reuniões internas. “Precisamos ter a nossa proposta de segurança pública, estabelecer a democracia direta no partido e fixar um limite de mandatos para promover a transição geracional no PT.”

O partido se meteu numa “encalacrada” com a política de alianças eleitorais, acha Rui Falcão, 81 anos, deputado federal paulista que já presidiu o PT por três vezes: “A derrota no Congresso, com a revogação do aumento do imposto sobre operações financeiras, revela claramente que um grande bloco conservador está se formando contra o governo Lula, incluindo os partidos da base aliada, para derrotá-­lo ou forçar a rendição, obrigando-nos a cumprir sua agenda de ajuste fiscal em cima dos mais pobres”.

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Seguir com a política de alianças, acha, pode levar a um desastre. “É caminho para o suicídio”, argumenta. “Precisamos de novo rumo, de mudança real, porque já são evidentes os sinais de esgotamento e de falência da atual linha política. Se a gente abrir mão dos princípios fundadores em nome de um eleitoralismo vulgar, vamos perder o nosso partido como acontece com o PSDB, guardadas as diferenças, a cada dia mais irrelevante e em extinção. Vamos sofrer não só derrotas eleitorais, mas derrotas políticas de longa duração. O Tarcísio de Freitas e seguidores estão aí na espreita; se continuarmos nessa modorra, nessa acomodação, vamos perder a eleição.”

“Há certeza de que o partido precisa de um novo rumo. Mas qual é o caminho?”

Há meses em campanha pela presidência do PT, Romênio Pereira, 65 anos, secretário de Relações Internacionais, calcula ter visitado quase 1 000 cidades. O que viu e ouviu resumiu da seguinte forma, em debate na semana passada: “Ou o governo muda ou o povo muda de governo”.

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No governo “tem muito puxa-saco”, diz Pereira, e no partido “falta coragem de apontar os caminhos e dizer as verdades que precisam ser ditas”. Dois terços da vida dedicados ao PT ensinaram a reconhecer sinais de derrota, disse a uma plateia de petistas na semana passada. “Um deles é quando até o café chega frio. Por isso, precisamos mudar rápido, muito rapidamente. Vejam bem, vou dar um exemplo: um dos principais espaços desse governo é a Caixa Econômica Federal, e ela está entregue ao Arthur Lira (ex-­presidente da Câmara). É isso que vocês queriam? É isso que vocês imaginavam? Nós temos que dizer para o governo: ‘Tá errado’. Tem que chamar os partidos que estão no governo e dizer que ou vota com ele ou vai para casa. Do jeito que está desanima, e a militância está desanimada, como se viu na manifestação de 1º de Maio.”

Para Valter Pomar, 58 anos, que tenta migrar da direção nacional para a presidência do partido, se erros e insuficiências se acumulam é porque “essa política de frente ampla está dando errado”. Em debate, relembrou perdas recentes: “Nos derrotaram na eleição de 2024, aqui em São Paulo; nos derrotaram na batalha do Pix; nos derrotaram na batalha do INSS; nos derrotaram no Banco Central, onde, como ouvi um companheiro falar, o ‘menino de ouro’ virou o ‘bezerro de ouro’; e nos derrotaram agora numa votação (do IOF) por 383 a 98. É óbvio que não há 383 fascistas na Câmara. É óbvio que essa derrota veio da direita ‘gourmet’, do Centrão e de uma substancial parte da base do nosso governo. O que eu sinto sinceramente na atitude de um setor do partido é falta de vontade de derrotar os nossos inimigos, uma absolutização da negociação, uma absolutização da conciliação. E é isso que nos levou a erros. É isso que levou a ter esse ‘bezerro de ouro’ no Banco Central. É isso que levou à crença no Hugo Motta. É isso que tem que acabar.”

Organizar o Partido dos Trabalhadores para a etapa pós-Lula talvez seja desafio maior do que foi criar o PT 45 anos atrás.

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Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 4 de julho de 2025, edição nº 2951

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