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O plano de Trump para obter a supremacia da IA

Vira e mexe vejo as pessoas reclamarem na internet que não aguentam mais viver momentos históricos — e faz sentido, porque realmente os últimos anos foram especialmente turbulentos. Bem, para essa galera devo dizer que mais agitação se delineia no horizonte, conforme se intensifica a nova Guerra Fria. Aliás, a Guerra Fria da IA. Um documento divulgado hoje pela administração Trump representa um episódio importante dessa história.

Trata-se do relatório Winning the Race: America’s AI Action Plan, um documento de 28 páginas contendo as diretrizes que deverão nortear a política dos Estados Unidos em sua disputa contra a China, que ocupa o lugar outrora ocupado pela União Soviética. Se antes a disputa era pela conquista do espaço e por armas nucleares, agora é pela supremacia em inteligência artificial, semicondutores e tecnologias emergentes.

Para as big techs, tudo. Para os inimigos, a lei

O plano de ação se divide em três pilares principais: (1) acelerar a inovação em IA, com a eliminação de regulações consideradas burocráticas e o estímulo a modelos open source que ampliem a autonomia tecnológica; (2) construir uma infraestrutura robusta, abrangendo a agilização de permissões para data centers, fábricas de semicondutores e expansão da rede energética, privilegiando fontes de energia despacháveis, como nuclear e geotérmica; e (3) liderar na diplomacia internacional, promovendo a exportação da tecnologia americana, fortalecendo controles de exportação para conter rivais, sobretudo a China, e influenciando padrões globais.

Os itens 1 e 2 são especialmente preocupantes porque a proposta de deixar as big techs correrem soltas vai na contramão do que recomendam estudiosos do tema mundo agora — e do que é praticado por potências como a União Europeia, que vem buscando implementar freios ao poder crescente das empresas do ramo.

Na visão da gestão Trump, é preciso dar liberdade para a inovação. O que pode ter feito sentido no caso de outras tecnologias ao longo da história, mas que no caso da IA requer mais cuidado, devido à escala imensa e muito mais profunda que ela tem (e que pode aumentar exponencialmente). Não sei se você conhece um ditado popular que diz que “para os amigos, tudo; para os inimigos, a lei”, mas é meio essa a toada do relatório.

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Quanto à infraestrutura, o grande senão tem a ver com sustentabilidade. Sim, o crescimento da IA dependerá de data centers mais robustos, mas o relatório abre caminho para que se intensifique o movimento já em progresso de usar de novo fontes de energia mais poluentes. Muito embora o documento divulgado hoje proponha maior ênfase em energia nuclear e geotérmica. A ver.

Diplomacia, a fronteira final

O terceiro pilar propõe que os Estados Unidos devem buscar liderar a diplomacia, o que parece irônico para brasileiros neste momento. Ou para pessoas de outros países ameaçados com tarifas altas por Trump, sempre em tom que imprime diversas interpretações que passam longe da ideia de relações civilizadas normalmente associadas à palavra.

O relatório não menciona diretamente o Brasil, claro (e ninguém esperava que isso acontecesse). Mas as diretrizes e prioridades listadas nele têm efeitos práticos sobre a posição brasileira. Sobretudo, o item “Export American AI to Allies and Partners”, que aponta a formação de um “está comigo ou está contra mim”, e sinalinza que nosso alinhamento ou distanciamento em relação aos Estados Unidos ou à China pode determinar seu acesso (ou restrição) à tecnologia de IA avançada e a insumos como semicondutores, infraestrutura de nuvem e investimentos para data centers.

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Como integrante dos BRICS e parceiro estratégico latino-americano, o Brasil entra no radar dessas disputas quando o plano americano enfatiza a necessidade de alianças robustas para impedir a “dependência de países adversários”.

Diversidade e mudança climática no alvo

O America’s AI Action Plan dedica trechos explícitos à rejeição do uso de diversidade, equidade e inclusão como critérios no desenvolvimento, avaliação e contratação de sistemas de inteligência artificial por órgãos federais dos Estados Unidos. O documento determina que referências a “diversity, equity, and inclusion” (DEI), bem como a mudança climática e desinformação, sejam eliminadas dos guias federais de risco para IA, como o NIST AI Risk Management Framework.

Essa abordagem provocou protestos de entidades como a American Civil Liberties Union e outras focadas na defesa dos direitos humanos e liberdades individuais. É que remover referências a diversidade e inclusão dos critérios federais retira salvaguardas importantes que vem sendo implementadas para mitigar preconceitos algorítmicos e impactos desproporcionais sobre grupos historicamente vulneráveis.

Sem critérios que reflitam preocupação com equidade, o risco de que sistemas de IA reproduzam ou ampliem desigualdades tende a crescer, especialmente em áreas sensíveis como saúde, educação e mercado de trabalho. Para saber mais sobre o tema, recomendo fortemente o TED Talk da genial Cathy O’Neil, que mostra como a falta de transparência no uso de algoritmos pode prejudicar a vida dos cidadãos.

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