O Conselho de Ética da Câmara decidiu arquivar o processo que pedia a cassação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), acusado de quebra de decoro por articular, nos Estados Unidos, o chamado tarifaço — ofensiva que encareceu as exportações brasileiras e foi interpretada como gesto político contra o governo. A decisão, celebrada em silêncio pelo bolsonarismo, provocou reação imediata da base de Lula, que tenta levar o caso ao plenário.
Nos bastidores, o líder do PT, Lindbergh Farias, já recolheu as assinaturas para o recurso. E, como resumiu o colunista Robson Bonin, “se o caso for para o plenário, será mais um presente da direita para a esquerda”.
O fantasma do deputado ausente
A situação de Eduardo Bolsonaro tornou-se símbolo de uma anomalia institucional. Ele vive fora do país — nos Estados Unidos —, acumula faltas e, ainda assim, mantém o mandato. “Quer dizer que agora está tudo bem?”, ironizou Bonin, no programa Os Três Poderes, da VEJA. “O deputado pode se eleger, prometer trabalho aos eleitores, e morar em Paris. Os colegas perdoam e o Parlamento naturaliza o absurdo.”
O episódio ampliou o desgaste da Câmara e de seu comando, hoje sob influência do Centrão. “É um corporativismo descarado”, avaliou Bonin. “A classe política aceitou o inaceitável: o parlamentar fantasma.”
O preço da autoproteção
A decisão do Conselho não apenas protege Eduardo Bolsonaro — protege o sistema que ele simboliza. Como destacou Bonin, “todo o desgaste recai agora sobre a instituição”. O Legislativo, que já enfrenta críticas pela falta de transparência e punição interna, eleva mais um degrau na escada do descrédito.
E, paradoxalmente, a oposição ao governo Lula enfraquece. Enquanto o Planalto exibe avanços em programas sociais e negocia com o Congresso, a direita se ocupa de blindar um de seus nomes mais rejeitados. “A oposição está perdendo tempo tentando salvar a pele de Eduardo Bolsonaro”, disse Bonin. “Assim não há como sair do lugar.”
Um presente involuntário para o Planalto
A leitura política é unânime: a esquerda ganhou munição. Para o presidente do PDT, Carlos Lupi, o próprio tarifaço articulado por Eduardo Bolsonaro “foi uma bênção” para o governo, pois reavivou um discurso nacionalista que favorece Lula. Agora, o desfecho no Conselho de Ética reforça a narrativa de que a direita perdeu o senso moral e o foco eleitoral.
“O caso é uma vergonha”, resumiu Matheus Leitão. “Mostra que o Congresso escolheu o pior caminho: o do autoperdão e do distanciamento do eleitor.”
O símbolo de uma direita em ruínas
Eduardo Bolsonaro, que concentra o fervor do bolsonarismo digital, hoje é visto por colegas como um ativo tóxico — uma lembrança incômoda de um projeto que ruiu. Sua imagem queimada, as ausências e o silêncio cúmplice da Câmara tornam o caso mais que disciplinar: tornam-no simbólico.
No Congresso, ninguém acredita que o parlamentar voltará a exercer influência real. Mas, por enquanto, ele mantém o cargo — e o fantasma de sua impunidade continua rondando o plenário.