São Paulo é a cidade que nunca dorme. O coração econômico do Brasil pulsa 24 horas por dia, movido pelo trabalho, pela pressa e, sobretudo, pelo trânsito. Mas por trás da correria, os números mostram algo que deveria nos fazer refletir: para seis em cada dez paulistanos, ter uma hora livre a mais por dia vale mais do que ganhar 10% a mais no salário.
Esse dado, revelado em pesquisa inédita do Instituto Locomotiva em parceria com a Uber, mostra como o tempo livre se transformou em um verdadeiro artigo de luxo. Mais do que dinheiro no bolso, o paulistano anseia por tempo para estar com a família, cuidar da saúde, ou simplesmente descansar.
A mobilidade é hoje a principal vilã do tempo na metrópole. Sete em cada dez moradores da capital dizem que o deslocamento atrapalha outras atividades importantes. Não é exagero. O trajeto diário, que deveria ser apenas um meio de locomoção, tornou-se um ladrão de qualidade de vida.
Esse problema é ainda mais cruel para quem mora nas periferias e nas favelas. Nove em cada dez moradores dessas regiões consideram o tempo de espera no ponto de ônibus excessivo, e 56% relatam que já tiveram dificuldade para chegar em casa de carro por viverem em ruas de difícil acesso. A exclusão começa na porta de casa, onde vielas e ladeiras limitam o direito básico de ir e vir.
A falta de tempo pesa ainda mais na população negra e nas pessoas de baixa renda. São grupos que, além de todas as barreiras estruturais que já enfrentam, precisam conviver com trajetos mais longos, esperas maiores e menos opções de transporte.
Não por acaso, 85% dos paulistanos e 82% dos moradores de favelas já perderam compromissos importantes de trabalho, saúde ou família por causa de problemas de mobilidade. Na prática, a desigualdade social se reflete também na desigualdade do tempo.
É nesse contexto que novas soluções de transporte urbano, como a moto por aplicativo, ganham relevância. Nove em cada dez entrevistados reconhecem o motoapp como um modal importante, especialmente pela possibilidade de acessar áreas onde o transporte público não chega e de oferecer rotas diretas e mais rápidas.
Não se trata de substituir ônibus, trens ou metrô, mas de complementar o sistema, garantindo que o direito ao tempo livre não seja privilégio de poucos.
Mais do que um dado curioso, o desejo dos paulistanos por tempo livre precisa ser encarado como um alerta. O tempo é o bem mais democrático que existe. Todos temos as mesmas 24 horas por dia, mas a forma como conseguimos usá-lo escancara as desigualdades de uma cidade que trata de forma diferente quem vive em regiões centrais e quem enfrenta horas de trajeto para chegar ao trabalho.
Se queremos uma São Paulo mais justa, precisamos pensar em políticas públicas e soluções urbanas que devolvam às pessoas aquilo que lhes é mais precioso: o tempo para viver.