Em uma bucólica rua a cerca de 20 minutos do centro de Gramado (RS) funciona o Kurotel, um retiro de bem-estar reconhecido sucessivas vezes como o Melhor Spa Médico das Américas. O grande e silencioso casarão recebe todos os dias clientes que vêm de diferentes cantos do país em busca de uma hospedagem de alto padrão que una relaxamento e medicina. O conceito, pouco conhecido no Brasil, faz sucesso em países como Itália, Alemanha, Áustria e Suíça. Quem está disposto a desembolsar pelo menos 2.500 reais por diária recebe acompanhamento personalizado durante sua estadia, com consultas com médicos, nutricionistas, psicólogos e fisioterapeutas, que trabalham juntos para entender as queixas dos pacientes e entregar um plano individualizado para cada um. O “spa” no nome também não é em vão: o Kurotel oferece uma gama de serviços como massagens, banhos termais e práticas de yoga. Por trás do hotel de luxo — que já funciona há mais de quatro décadas, estão o médico Luis Carlos Silveira, 77 anos, fundador do Kur e um dos pioneiros da medicina integrativa no país, e sua filha, Mariela Silveira. A coluna GENTE conversou com Luis sobre o futuro da medicina, o problema dos atendimentos no Brasil e os riscos do inflado mercado de wellness.
Quais são os pilares do Kurotel? Nosso trabalho é integrar essas dimensões de forma personalizada, respeitando a individualidade de cada pessoa. É assim que entendemos e praticamos o verdadeiro conceito de saúde integral. Desde que ingressei na faculdade na década de 60, percebi que saúde não é apenas ausência de doença, mas presença ativa de vitalidade, propósito e equilíbrio. Ao longo dos anos, fomos consolidando os pilares que sustentam essa visão: água, movimento, alimento, relaxamento e equilíbrio. Cada um deles se apoia na medicina, mas também na observação atenta do ser humano.
Na sua visão, qual é a falha fundamental da “medicina da doença”, aquela que só trata os sintomas, que o Kurotel busca corrigir? A medicina da doença teve um papel fundamental: salvou milhões de vidas e ampliou a esperança de cura. Mas acredito na evolução dela, na integração de diversas áreas da medicina, no olhar individualizado pensando no presente e no futuro, na longevidade e na vitalidade de cada pessoa. Percebi ainda jovem, na década de 1960, que muitos pacientes voltavam ao consultório não por falta de tratamento, mas por falta de compreensão de suas próprias causas de adoecimento.
O mercado de wellness está cheio de modismos e soluções milagrosas. Quais são os maiores riscos desse cenário? Vejo com preocupação o crescimento dos modismos que tratam a saúde como produto de consumo. O bem-estar virou tendência, mas muitas vezes sem fundamento científico ou propósito duradouro. O maior risco é a banalização da saúde, quando promessas instantâneas substituem o compromisso com o método e a ética. Cuidar do corpo e da mente exige constância, orientação e conhecimento.
Como o Kurotel se posiciona como antídoto a essa banalização do bem-estar? Kurotel é o resultado de mais de quatro décadas de trabalho contínuo, pautado por credibilidade, coerência, respeito às individualidades e com foco no resultado de cada cliente. Buscamos ser o antídoto à superficialidade do wellness, oferecendo um espaço onde a ciência, conhecimento e olhar humanizado caminham juntos. Cada protocolo é desenhado por uma equipe multiprofissional e adaptado à individualidade de cada pessoa.
Como imagina o futuro da medicina? Será preventivo, personalizado e profundamente humano. A tecnologia continuará a avançar de forma que nem conseguimos imaginar. O papel do médico será cada vez mais o de educar, inspirar e acompanhar, ajudando as pessoas a entenderem que a saúde é construída diariamente, em cada escolha, em cada gesto de autocuidado. O futuro da medicina não está apenas nos equipamentos ou nos laboratórios, mas na capacidade de reconhecer a vida em sua totalidade, corpo, mente e propósito.
