“Pacheco não é Lula. Pacheco está Lula”. É assim, com ares de desconfiança, que integrantes do governo descrevem um dos motivos pelos quais o petista não cedeu aos apelos do presidente do Senado Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes em prol do nome do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) como futuro juiz da Suprema Corte.
Advogado criminalista e antigo defensor de um dos réus do mensalão, o parlamentar chegou ao Senado após derrotar a ex-presidente Dilma Rousseff, que, depois do impeachment, concorreu a uma vaga de senadora por Minas Gerais. Em 2021, foi apoiado pelo então presidente Jair Bolsonaro para disputar o posto de chefe do Congresso e fez vários acenos ao bolsonarismo antes de, primeiro com a CPI da Covid e depois com a trama golpista, ter se afastado do antigo mandatário e se aproximado de Lula.
Com amplo trânsito na classe política e no Judiciário, o parlamentar é um dos cotados para suceder ao antigo presidente do STF Luís Roberto Barroso, que antecipou em cerca de oito anos a data-limite para deixar o tribunal e abriu a possibilidade de Lula indicar mais um integrante da cúpula do Poder Judiciário. O presidente, no entanto, prefere o atual advogado-geral da União (AGU) Jorge Messias, considerado um quadro orgânico do PT, um nome de simpatia de Dilma e, como provável ministro do Supremo, alguém que não correria o risco de se bandear para pautas mais voltadas à direita em um eventual governo adversário do lulismo.
Nas entrelinhas, o diagnóstico de fidelidade de Messias é apontado como contraste à escolha de José Antonio Dias Toffoli, também egresso das fileiras do PT e também antigo AGU de Lula, mas que se aproximou de Jair Bolsonaro e de setores militares quando o capitão estava no poder. Segundo governistas, o presidente Lula deve anunciar o nome de Messias ao STF assim que voltar da viagem que faz à Indonésia e à Malásia.
No último dia 20, às vésperas de o petista embarcar para o exterior, o presidente do Senado Davi Alcolumbre se reuniu com o chefe do Executivo para defender a indicação de Pacheco do STF. Além da conhecida predileção por Messias, Lula quer explorar um antigo sonho político do senador mineiro, o de ser governador de Minas Gerais, para pressioná-lo a concorrer ao governo estadual em 2026 e dar um palanque ao presidente, que na quarta-feira, 22, anunciou ao lado do chefe indonésio Prabowo Subianto que concorrerá ao quarto mandato no próximo ano.