Um mapa do Setor Militar Urbano, em Brasília, a poucos metros da praça onde o acampamento com apoiadores de Jair Bolsonaro foi montado após a derrota do capitão nas eleições de 2022 é a mais recente tentativa da defesa do ex-presidente de desqualificar a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid. A partir de informações das empresas Meta e Google, que relataram ao Supremo Tribunal Federal (STF) dados do perfil no Instagram @gabrielar702, advogados de Bolsonaro encaminharam à Corte informações de geolocalização que mostram que a conta utilizada clandestinamente para tratar da delação, revelada em uma sequência de reportagens de VEJA, foi criada nas proximidades da própria casa do delator.
Convocado a prestar esclarecimentos à PF, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro insistiu que não é dele a conta @gabrielar702, disse que nunca falou com ninguém sobre os depoimentos que prestou como colaborador da Justiça e acusou advogados ligados ao ex-presidente de terem feito investidas contra a mãe, a esposa e uma de suas filhas em busca de informações sobre a delação. Até onde se sabe, porém, as evidências indicam o contrário.
A partir de um site que identifica a localização de endereços de IP, advogados de Bolsonaro informaram ao STF que o computador que administra o email usado para a criação do perfil @gabrielar702 estava na região onde mora Mauro Cid. As empresas Meta e Google já haviam revelado que o perfil fora criado com um email pessoal de Cid existente há mais de 20 anos, que o endereço eletrônico para a verificação da conta na rede social é um outro email do militar e que entre os dados para uma eventual recuperação da conta está o celular pessoal do tenente-coronel apreendido nas investigações.
Apesar das evidências, o ministro Alexandre de Moraes negou pedido para que as informações que podem tisnar a delação ao ex-ajudante de ordens fossem anexadas desde já ao processo que trata da trama golpista. Entre interlocutores do STF, a avaliação é a de que o tema deve voltar a ser discutido na fase final do julgamento, quando os ministros da Primeira Turma do tribunal devem avaliar a postura de Mauro Cid como colaborador.
Em outra frente, três áudios de agradecimento de Cid ao advogado Luiz Eduardo Kuntz, seu interlocutor no perfil @gabrielar702, e um chat em que a filha do militar informa ao defensor pormenores de sua rotina e de viagens que faria devem embaralhar ainda mais o inquérito que apura se familiares do delator foram cercados por bancas de defesa dos réus da trama golpista em busca de detalhes do acordo de delação que ele fechou com a Polícia Federal.
As novas evidências revelam conversas em tom cordial e destoam da acusação do tenente-coronel de que o advogado não era próximo de Cid, de que ele havia se aproximado de forma súbita de sua filha para tentar colher dados da delação e de que a família era assediada por ele para que revelasse detalhes da colaboração.