Frank Sinatra desprezava o rock, classificado por ele como “a forma mais brutal, feia, degenerada e cruel de expressão”. Isso não o impediu de gravar covers dos Beatles, como Something e Yesterday. Essa opinião não impediu também que o tom barítono de uma estrela do rock fosse comparado ao do lendário crooner americano. O intérprete em questão é o inglês Greg Lake, que alcançou o estrelato como baixista e vocalista de dois grupos seminais do chamado rock progressivo, o King Crimson e o Emerson, Lake & Palmer.
Lake morreu em 2016, depois de uma longa luta contra um câncer. Foi lançado recentemente um álbum inédito dele com uma apresentação gravada em novembro de 2005 em Stevenage, na zona metropolitana de Londres. A voz grave e aveludada surge em boa forma interpretando clássicos do Crimson e do ELP, como 21st Century Schizoid Man e From The Beginning. O artista ainda lançou nos anos 80 dois interessantes álbuns-solo, mas nenhum deles alcançou a mesma repercussão.
O “Frank Sinatra do rock progressivo” foi estrela precoce. Tinha apenas 21 anos de idade quando gravou o disco de estreia do King Crimson, em 1969. Esse álbum é considerado por muitos o marco inicial do gênero que fez a fama de outros grupos, como Pink Floyd e Yes. A ideia era misturar em longas suítes as bases do rock com pitadas de jazz e de música erudita, algo que o Crimson fez de forma impressionante, tendo Lake à frente do microfone.
A temporada dele no Crimson não durou muito. Logo depois, ele se juntou ao tecladista Keith Emerson e ao baterista Carl Palmer para fundar o ELP. A exuberância instrumental se tornou a marca registrada do grupo, com destaque para os solos de órgão e de sintetizadores de Emerson. Em muitos momentos, Lake fazia uma espécie de respiro lírico a esse som bombástico, com sua voz grave, potente e melodiosa. O ELP se dissolveu no final dos anos 70. Na década seguinte, foi lançado um disco com Emerson, Lake e o baterista Colin Powell. A formação clássica do trio voltou em 1990 e a banda seguiu em atividade até a separação final, em 1998.
Curiosamente, a despeito da potência sonora que marcou a carreira do ELP, o primeiro sucesso do grupo foi uma canção acústica, Lucky Man, incluída no primeiro álbum do trio, de 1970. A música não era cotada para fazer parte do repertório, até que surgiu um problema de última hora no estúdio: faltavam alguns minutos para preencher um dos lados do disco de vinil. Lake então sacou o violão e gravou a balada que havia composto quando tinha apenas 12 anos. Palmer acrescentou percussão e Emerson arrematou tudo com um solo de sintetizador. Confira aqui um vídeo com Lucky Man:
Outro sucesso inesperado de Lake foi I Believe In Father Christmas, a canção natalina lançada como música-solo por ele em 1975, quando ainda fazia parte do ELP. A música chegou à segunda posição nas paradas britânicas da época, perdendo apenas para Bohemian Rhapsody, do Queen.
Ao longo da carreira, Lake ainda fez uma participação rápida no supergrupo Asia durante uma turnê no Japão e colaborou em gravações e em shows com diversos outros artistas, como The Who e Ringo Starr, dos Beatles. Apesar disso, o “Frank Sinatra do rock” brilhou mesmo como a voz marcante dos dinossauros progressivos King Crimson e ELP. Parte dessas lembranças agora estão de volta graças ao lançamento do concerto inédito na Inglaterra.