O processo que pode levar à cassação do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), foi incluído na pauta de julgamentos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nesta quinta-feira, 29 — um dia após a operação policial que terminou com ao menos 119 mortos em comunidades da capital fluminense. O julgamento está marcado para a próxima terça-feira, 4 de novembro. Nos bastidores do Palácio Guanabara, o agendamento do julgamento foi recebido com diferentes leituras, inclusive de recado político.
A Procuradoria-Geral Eleitoral tenta reverter a decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ), que, em maio do ano passado, absolveu Castro e outros acusados no caso, entre eles o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União). A ação trata de supostas contratações irregulares na Fundação Ceperj e na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) durante a campanha de 2022. Segundo o parecer do vice-procurador-geral eleitoral, Alexandre Espinosa, o governador teria obtido vantagem eleitoral ao empregar servidores temporários sem amparo legal e ao descentralizar recursos para entidades desvinculadas da administração pública.
O fato de o processo ter voltado à pauta justamente agora, após meses parado, é visto como sinal de que o alto escalão do Judiciário e do governo federal teria se incomodado com a ofensiva, que elevou a popularidade do governador na direita e lhe rendeu manifestações públicas de apoio de outros governadores alinhados ao campo conservador.
Outra leitura é a de que o julgamento foi pautado por razões burocráticas — um gesto de deferência da ministra Cármen Lúcia à relatora Isabel Gallotti, que deixa o TSE em 11 de novembro e teria solicitado prioridade para concluir seus votos antes da saída.
Seja qual for o motivo, o fato de o julgamento ter sido marcado justamente agora pode acabar favorecendo Castro. No cálculo político do governador, a visibilidade do caso reforça o discurso de que é alvo de perseguição de setores progressistas do alto escalão do governo, num momento em que ele se projeta com um discurso alinhado ao conservadorismo — e em que a segurança pública domina a agenda nacional.