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O gordo e o magro: a desenfreada (e tragicômica) busca pelo corpo perfeito

Um dos maiores clássicos do cinema envolvia a figura de um personagem com obesidade e outro bem magro. Ambos eram atrapalhados, engraçados, viviam brigando e esses opostos animaram e ainda animam muitas gerações. Essa famosa dupla de comediantes nos faz lembrar uma situação engraçada que acontece hoje: magros que buscam tratamento para emagrecer. Só rindo!

A chegada da nova geração de medicamentos para o diabetes e a obesidade apresentou resultados seguros e impressionantes, o que renovou o desejo de pessoas já magras em procurarem a droga em nome do corpo “perfeito”. Se fosse uma série, a temporada de tratamentos começaria com quatro episódios, um por semana. Os primeiros com doses mais baixas, podendo ser estendidos para doses mais altas com temporadas mais longas se o vilão — os 3 a 5 quilos a mais — não morrer antes.

Tudo parece realmente como os antigos filmes de comédia. O roteiro em geral é escrito na mesa de um restaurante ou no deck de uma lancha, onde um personagem antes com um corpo dentro dos padrões, aparece magro demais. Tudo se transforma e o interesse passa ser qual foi o “milagre”. A história se desenrola com uma pessoa que julga estar um pouco fora do peso e vai à uma casa na floresta chamada farmácia, onde adquire a porção mágica. O assunto vira o centro da atenção de todos, que em sua maioria é magra. Os olhos brilham. As postagens mostrando novas roupas se tornam frequentes. É a transformação de um corpo antes normal para um tipo desejado pelas redes sociais. O gordo da mesa se manifesta, ri e se diverte ao imaginar que os magros estão com o mesmo objetivo que o dele: emagrecer.

A trapalhada continua, pois na maior naturalidade todos saem para a mata em busca desse inofensivo milagre. Procurar um médico para uma consulta não é o mais importante, quando basta uma ligação para conseguir a receita. É um filme que também está acontecendo com os próprios profissionais de saúde. A banalização se tornou algo normal, uma novela do dia a dia.

Quando participo dessas conversas, a vontade é realmente de rir e mesmo que eu tente me manifestar pouco efeito terá, já estão todos enfeitiçados. A ideia de “comer, injetar e repetir” tornou-se algo da moda, assunto moderno para os ambientes sofisticados, quase uma necessidade. E essa é a parte em que tudo perde a graça. Essas novas medicações estão ajudando muito no equilíbrio de portadores de diabetes e na regressão da obesidade em milhões de pessoas. Para eles é óbvia a melhora na qualidade de vida e na longevidade, mas é para o personagem Gordo e não para o Magro.

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A estreia e os primeiros episódios irão entreter o público com perda de peso e uma suposta melhora estética, muita das vezes vista só pelo ator da trama. A falta de equipe de apoio, médicos e nutricionistas tornará os próximos capítulos trágicos e nada engraçados. Ficar enjoado, com intestino preso, fraco, mas para eles pouco importa.

O uso sem indicação ou orientação de dieta adequada dessas medicações fará com que, além de gordura, o personagem perca músculo e a cada ciclo perde-se os dois. O problema é que a massa magra é sempre muito mais difícil de repor, ou seja, quando a gordura voltar, virá acompanhada de pouco músculo. O perfil de quem participa dessa película é, em geral, de mulheres ou homens acima de 35 anos, pessoas em que a sarcopenia — a diminuição da massa muscular — entra como ator principal e insubstituível, principalmente se não estão sendo alimentados adequadamente.

Nos bastidores, o assunto é a falta do medicamento, pois mesmo quem não precisa está usando. Como no famoso seriado, O Gordo e o Magro brigam, só que nesse caso, não é nada engraçado…

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