No terceiro trimestre de 2025 o Brasil cresceu apenas 0,1%. A economia praticamente parou. O único ponto acima da média foi a agropecuária, que avançou 0,4% no trimestre e acumula 11,6% no ano, enquanto o crescimento do restante do PIB segue abaixo de 2,5%. O campo opera em velocidade de dois dígitos enquanto a economia urbana anda em marcha lenta.
A escala do agronegócio evidencia isso. Em 2024 o setor alcançou R$ 2,76 trilhões, 23,5% do PIB. Em 2025 deve chegar a R$ 3,79 trilhões, perto de 30%. A construção civil representa 4,3% do PIB e a indústria automobilística menos de 3%. O agro vale várias vezes qualquer outro setor do país.
No emprego a força é semelhante. Cerca de 28,5 milhões de trabalhadores atuam no agro, quase um quarto da força de trabalho. Em muitas regiões é a única atividade com capacidade real de gerar renda. E os efeitos indiretos são amplos: cada R$ 1 produzido no campo gera aproximadamente R$ 3,70 em logística, máquinas, tecnologia e serviços financeiros. O agro é uma infraestrutura econômica que sustenta cadeias inteiras.
No comércio exterior, seu papel é decisivo. Em 2024 o superávit total foi de US$ 74 bilhões, mas o agro sozinho gerou US$ 145 bilhões de exportação. Indústria e serviços tiveram déficit de US$ 71 bilhões. Em 2025 o padrão se mantém. De janeiro a outubro o setor exportou US$ 142 bilhões, com superavit próximo de US$ 125 bilhões. A soja deve encerrar o ano com 110 milhões de toneladas exportadas.
A razão dessa resiliência está na lógica de longo prazo. O agro não responde a trimestres, mas a ciclos de 5, 10 e 15 anos. Terra, máquinas, genética e contratos não podem ser interrompidos porque o câmbio oscilou. Em 2025, mesmo com desafios climáticos anteriores, a tecnologia, a safrinha e a demanda internacional mantiveram o país em movimento.
Mas esse retrato traz um alerta. O Brasil já construiu a agricultura tropical mais eficiente do mundo, mas não captura o maior valor. Operamos fundamentalmente como fornecedores de matéria prima agrícola, enquanto outras nações transformaram agricultura em indústria e indústria em marca. Estados Unidos, Europa e Ásia mostram que prosperidade nasce quando a produção se converte em produtos de valor, logística sofisticada e presença internacional.
O Brasil tem base para isso. Temos escala, ciência tropical, clima, procura internacional e capacidade empresarial. O que falta é coordenação. Conectividade rural para agricultura digital. Seguro agrícola amplo e acessível capaz de reduzir risco. Corredores logísticos modernos. Educação técnica adequada. Política comercial clara com presença internacional forte. E uma estratégia de agregação de valor que estimule marcas brasileiras e produtos com identidade.
2026 será o início de uma década decisiva. Se tratarmos o agro apenas como exportação de matérias primas, perderemos uma oportunidade histórica. Mas se o enxergarmos como plataforma de uma nova industrialização baseada no campo, o país poderá transformar produtividade em riqueza sofisticada e influência global.
O agro sustentou o Brasil em 2025.
Em 2026 o Brasil precisa sustentar sua própria ambição.
*Gustavo Diniz Junqueira é empresário e foi secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo