Em entrevista ao Veja+Verde, o empresário Dan Ioschpe falou sobre sua missão como Campeão de Alto Nível do Clima da COP30, a conferência para mudanças climáticas da ONU que acontecerá em novembro no Brasil, em Belém (PA). “A ação climática efetivamente se dá na sociedade não governamental, que seria tudo menos os governos partes das COPs. Empresas, comunidades, prefeituras, governos estaduais… são esses os entes que de fato agem na ponta em relação aos eventos climáticos”, explica Ioschpe. “O High Level Champion, ou Campeão de Alto Nível, é a pessoa que ajuda a levar essa mensagem adiante e impulsiona a sociedade não governamental na direção da ação climática, contribuindo para alcançar metas como as que foram acordadas em Paris, mais de dez anos atrás. A minha função é dinamizar, galvanizar, entusiasmar, incentivar a sociedade não governamental a perseguir essas metas.”
Cada país-sede da COP nomeia um Campeão de Alto Nível do Clima para desempenhar esse trabalho junto com uma equipe de 80 especialistas nos mais distintos aspectos da ação climática até a realização do evento, e segue atuando após a conferência em paralelo com o nomeado do próximo país-sede.
Ioschpe avalia que o ambiente geopolítico talvez não seja o mais propício para grandes avanços nas negociações entre os países no que se refere ao estabelecimento de novos compromissos, mas existe uma grande oportunidade de fazer da COP no Brasil a conferência da implementação, ou seja, colocar em prática as ações necessárias para alcançar o que já foi acordado. “Há um certo ceticismo e, às vezes, dada a complexidade desse tipo de assunto, não avançar não é um resultado necessariamente ruim. Ruim seria retroceder”, diz Ioschpe.
Para o Brasil e para as empresas brasileiras, a COP30 é uma grande oportunidade, na visão de Ioschpe, pois “sustentabilidade é a chave para a continuidade do desenvolvimento socioeconômico”. Ele dá um exemplo de como isso pode acontecer: “Provavelmente a gente tem algum dinheiro empoçado que não está chegando na ponta e projetos que não estão conseguindo encontrar o seu financiamento ou o seu aporte econômico. A gente pode ajudar a fomentar isso.” O Brasil, acredita Ioschpe, tem as melhores condições de obter ganhos oferecendo soluções sustentáveis, como no crédito de carbono, na transição energética e na destinação correta de resíduos.
A missão de Ioschpe é ainda mais importante quando se considera que os governos de alguns países importantes, como os Estados Unidos, não estão engajados nas discussões climáticas. Mas, na ausência desses governos, os estados e as cidades estão atentos para o problema e se mostram dispostos a contribuir com soluções. “Afinal, a questão climática vai acontecer muito mais no ente subnacional do que no ente federal. Se a gente pega o exemplo do Rio Grande do Sul no ano passado, é na vida diária das pessoas, dos prefeitos, dos governadores, das comunidades locais, em que o problema está acontecendo primeiro”, lembra Ioschpe, referindo-se às enchentes do estado sulista. Além disso, questões como a gestão de resíduos, o saneamento básico e até a geração de energia dependem de decisões em nível subnacional.
Dan Ioschpe é presidente do Conselho de Administração da Ioschpe-Maxion, fabricante de rodas e componentes estruturais para veículos, e integra os conselhos da WEG, Marcopolo e Embraer. Ele também é um dos vice-presidentes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e no ano passado liderou o B20, o fórum empresarial ligado ao G20, que reúne os países mais ricos do mundo.
O Veja+Verde, conduzido pelo editor Diogo Schelp, traz empresários, personalidades, gestores públicos e especialistas para apresentar suas visões e soluções sobre um dos maiores desafios para a sobrevivência da humanidade: conciliar desenvolvimento econômico e social com preservação do meio ambiente.
Em sua primeira temporada, o Veja+Verde tem como principal mote as discussões que serão levadas por governos, empresas e organizações ambientais para a COP30.
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