Tem filho de presidente que dá certo, tem filho de presidente que dá errado. Donald Trump Jr. obviamente quer pertencer à primeira categoria numa escala tal que não exclui um dia ocupar a Casa Branca. As chances de uma candidatura não são nada más, com apoio principalmente entre o eleitorado masculino mais jovem, uma fatia muito cobiçada.
Um reflexo da posição política considerável de Don Jr., como é chamado por todo mundo, pode ser visto nas críticas à namorada com a qual anunciou que pretende se casar, Bettina Anderson.
Os inimigos de sempre desceram os tanques: ela é “conhecida” por ter namorado homens mais velhos e muito mais ricos no mundo de milionários onde foi criada em Palm Beach. Também começou a namorar o filho do presidente quando ele ainda estava morando junto com Kim Guilfoyle, a companheira recompensada pelo ex-sogro com a embaixada da Grécia.
Kim Guilfoyle não estava em posição de reclamar: seu relacionamento com Don Jr. começou ainda durante o casamento dele com Vanessa Trump, mãe de seus cinco filhos.
PUREZA IDEOLÓGICA
As arestas foram resolvidas. Vanessa mantém um ótimo relacionamento com a família do ex-marido e recebeu as bênçãos do sogro quando começou a namorar um amigo dele, o gênio do golfe Tiger Woods. A filha mais velha do casal, Kai, é a neta que mais acompanha o avô em compromissos públicos e quer seguir carreira no golfe, sendo privilegiada pelo próprio Trump, dono de vários dos mais luxuosos clubes do esporte no mundo, sem falar nos conselhos do atual padrasto.
Quais as chances de Don Jr. ser presidente se “receber o chamado”, como já disse? Na próxima eleição, na qual todo mundo já pensa, embora Trump nem tenha completado um ano da segunda presidência (parece muito mais devido à sua enorme capacidade de agitar as águas), é possível que ele prefira ficar de fora e endosse seu amigo, o vice-presidente JD Vance. Mas, em política, sabemos todos, basta virar um pouco a cabeça e tudo muda mais depressa do que nuvem no céu em dia de tempestade.
Don Jr. ocupa no atual firmamento político um lugar parecido com o de Eduardo Bolsonaro em relação a Jair Bolsonaro, antes que tudo desse uma grande guinada: uma espécie de filtro da pureza ideológica. No caso do filho de Trump, é ele quem fala com mais agressividade e representa mais pronunciadamente o mundo MAGA.
Ao anunciar o futuro casamento, até brincou dizendo que havia ficado sem palavras diante da perspectiva de fazer o pedido a Bettina Anderson, embora “normalmente fale cobras e lagartos.”
Trump não está vivendo um momento brilhante, embora seu lugar nas pesquisas não seja muito diferente de presidentes anteriores no mesmo momento da presidência. Segundo a média do RealClear, ele tem 43,9% de aprovação contra 53,4% de desaprovação.
Dá para recuperar uma diferença de dez pontos e deixar um espaço confortável para o futuro candidato presidencial republicano?
MARKETING NÃO GANHA ELEIÇÃO
É difícil responder no momento. O assunto que mais pega os eleitores é o custo de vida. Apenas 31% dos americanos o aprovam no quesito economia. É uma esfera em que as reformas liberalizantes promovidas por Trump ainda vão demorar para mostrar resultados. Até a aprovação ao controle da imigração, que era maciça no começo do governo, está recuando, inclusive por perseguições que parecem injustas de agentes armados como robocops contra pedreiros ou jardineiros em situação ilegal.
As negociações comerciais com outros países – tradução: tarifas aumentadas a níveis dolorosos – têm a reprovação de 61%, segundo pesquisa do instituto ligado à Universidade de Chicago.
Além da precocidade do momento para estabelecer ilações com a votação presidencial de 2028, ainda é preciso ver como são as reações aos candidatos democratas. Não é um campo especialmente brilhante, com os nomes de dois ultraliberais na dianteira, Gavin Newson, o governador da Califórnia, e Kamala Harris, beneficiada por um grande recall por ter sido a candidata que disputou com Trump no ano passado. Ambos têm poucas chances de apelar ao eleitorado mais centrista, um problema que obviamente os marqueteiros estão tentando resolver.
Se marketing político ganhasse eleição, Donald Trump não teria sido eleito presidente duas vezes. A onda de insatisfação que o levou à Casa Branca em ambas as ocasiões agora joga contra um futuro candidato republicano. Trump também é uma personalidade impossível de ser reproduzida e seu filho sabe muito bem disso. Tendo um apelo razoável ao eleitorado MAGA, ele padece do mesmo problema, com sinal invertido, que Newson e Kamala: a rejeição dos centristas.
ALPINISMO SOCIAL
Apesar das intrigas dos inimigos políticos, a futura esposa Bettina Anderson no momento não ajuda nem atrapalha. Tem o típico “visual Mar-a-Lago”: bonita, alta, imponente, longos cabelos enrolados na escova, dentes que não existem na natureza, sinais de tratamentos estéticos não invasivos – apesar dos 37 anos – e muita presença. Não faz discursos políticos como a antecessora, Kim Guilfoyle, mas está acostumada ao mundo onde terá um lugar especial e a ocupar posições de destaque, inclusive na esfera da filantropia, a passagem para a aceitação social ampliada dos ricos.
Sua passagem agora ficou mais cara, mas em muitos setores dos Estados Unidos isso é visto como um sinal de sucesso, não de alpinismo social.
Por enquanto, não dá para falar numa primeira-dama Bettina Trump, mas ninguém também dizia isso sobre Melania Trump em 2015.
Os dois partidos, Democrata e Republicano, estão padecendo da falta de nomes incontestáveis, aqueles candidatos que arrebatam o coração dos eleitores – e também fazem promessas animadoras para seu bolso. Barack Obama e Donald Trump foram candidatos irresistíveis, por mais que provoquem urticária política nos adversários. Por enquanto, 2028 parece um cenário nada animador e Donald Trump Jr. não muda isso. Escolher entre Gavin Newson e JD Vance parece, igualmente, desanimador. Mas as personalidades mudam conforme o momento político e essa é a esperança de haver um futuro presidente dos Estados Unidos à altura do cargo.