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O fantasma de Epstein: caso do abusador causa cisma entre trumpistas

“Não vamos mais gastar tempo e energia com Jeffrey Epstein, alguém que ninguém nem liga mais”, disse Donald Trump. É, obviamente, o exato contrário: muita gente continua a ligar para isso, a ponto de que fiéis trumpistas manifestaram indignação com o anúncio do FBI e do Departamento de Justiça de que o milionário explorador de meninas adolescentes realmente se suicidou na cadeia e não havia um “caderninho preto”, com os nomes de figurões a quem Epstein “presenteava” as jovens aliciadas.

Desde a morte de Epstein, encontrado 10 de agosto de 2019 enforcado com toalhas amarradas no beliche, no chão da cela onde deveria estar sob 24 horas de supervisão, as teorias proliferam, sobretudo no universo Trump onde prosperou a ideia de uma conspiração de milionários pedófilos ligados a altas figuras do Partido Democrata.

É, obviamente, uma maluquice. Mas até os espíritos mais céticos vacilam diante do caso Epstein. Não há investigação que consiga responder a todas as dúvidas nem amarrar todas as pontas. O vídeo divulgado mostrando uma linha ininterrupta de uma câmera de segurança? Imediatamente sua integridade foi colocada em dúvida, amparada por opiniões técnicas de que realmente parece ter sido a fusão de imagens diferentes, com um hiato suspeito. Também não foram divulgadas, por estarem sob domínio da justiça, mais de dez mil imagens e vídeos de abuso sexual de menores.

As dúvidas foram seguidas de pedidos de demissão da ministra da Justiça, Pam Bondi, uma trumpista de primeira linha que desagradou a base. Até uma influenciadora muito ligada a Trump, Laura Loomer, disse que o povo americano não toleraria ser enganado.

Sentindo a revolta, Trump tentou acalmar seus seguidores, “rapazes” e “garotas”, sem muito sucesso. A mídia, que é esmagadoramente antitrumpista, aproveitou o presentão e explorou ao máximo a frustração do pessoal MAGA. Mas até num dos programas mais identificados com Trump, o Fox and Friends, houve contestações.

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UMA BOMBA-RELÓGIO

“Não se pode dar o assunto por encerrado sem dar alguma explicação. E tem que haver alguma explicação”, disse um dos apresentadores, Charles Hurt, um nome importante no mundo da direita. Outro, Kevin Corke, levantou um dos maiores argumentos, nessa caso sem conspiracionismo: não pode haver mil vítimas – o inacreditável número de jovens exploradas por Epstein – e nenhum tipo de responsabilização de quem participou disso. Numa analogia batida, mas com fundo de verdade, ele avisou que o assunto é uma bomba-relógio.

Realmente, soa absurdo. Uma jornalista de renome, Tina Brown, que foi diretora de redação dos bons tempos da revista Vanity Fair, de impecáveis credenciais antitrumpistas, comentou que nunca acreditou que Epstein tenha se suicidado e seu ceticismo “só aumenta à medida em que os mistérios se acumulam”.

Tina Brown foi pioneira em publicar reportagens sobre Epstein quando ele ainda estava vivo e, depois de pegar um tempo mínimo de prisão por exploração de menores para prostituição, voltar a seus hábitos costumeiros para atender suas preferências sexuais, como ser massageado e masturbado por uma rede infindável de lindas garotas.

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“Quanto mais novas, melhor”, disse certa vez. Usava as próprias meninas aliciadas para atrair colegas e até irmãs a parecia realmente estar acima da lei. Entre as personalidades que atraia para jantares, viagens à “ilha dos pedófilos”, nomes como Woody Allen, Bill Gates, o ex-primeiro-ministro israelense Ehud Barak e até o ídolo do mundo acadêmico de esquerda Noam Chomsky (“Não é da sua conta”, respondeu ele sobre uma transação financeira feita com ajuda de Epstein). Bill Clinton usou seu jato particular e ficou registrada para sempre a amizade – interesseira – flagrada na foto em que aparece Epstein aparece com Donald Trump e suas namoradas, Ghislaine Maxwell e Melania Knaus.

‘NUNCA IRÁ A JULGAMENTO’

Epstein apareceu morto depois de preso pela segunda vez; Ghislaine, cumpre uma pena que em princípio a deixará na cadeia até a morte; Trump virou presidente e Melania, primeira-dama. Muito antes da primeira eleição, ele rompeu com Epstein – alguns dizem que por ter tentado aliciar a filha de um amigo que trabalhava no seu resort em Mar-a-Lago.

O sonho dos mais extremados acusadores de Trump é que ele apareça em alguma situação comprometedora na companhia de Epstein. Do lado contrário, é que surjam provas de democratas famosos na mesma situação. As conclusões frustrantes apresentadas pelo Departamento de Justiça alimentam a primeira turma e revoltam a segunda.

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Dentre os “amigos” de Epstein, o único a ter sofrido algum tipo de punição foi o príncipe Andrew, banido de todos os compromissos oficiais da família real pela proximidade com o abusador. Andrew também fez um acordo num processo civil pelo qual pagou 15 milhões de dólares a Virginia Giuffre, a mais conhecida das vítimas de Epstein, a quem acusava de oferecê-la para relações sexuais com o príncipe em três ocasiões.

Virginia se suicidou em 25 de abril passado – ou, como acreditam muitos, foi “suicidada”. Tinha 41 anos. Outras duas mulheres que se relacionaram com Epstein quando adolescentes morreram de overdose. Também na categoria suicídios suspeitos se enquadra o francês Jean-Luc Brunel, dono de uma agência de modelos usada para recrutar garotas para Epstein. Ele foi encontrado morto, por enforcamento, numa cela de cadeia.

Tina Brown disse que começou a cobrir o caso então pouco conhecido do milionário a partir das apurações de Conchita Sarnoff, uma repórter de origem cubana que cobria casos de tráfico sexual. Foi dessa repórter que ela contou ter ouvido a frase de um agente do FBI a respeito da segunda prisão de Epstein: “Ele nunca irá a julgamento. Lá dentro existem toalhas’.”

Quem não fica com dúvidas num caso com tantas pontas soltas?

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