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O dilema na economia brasileira que o mercado já precifica

A economia brasileira começou a semana com sinais mistos — um alívio na inflação, mas uma ressaca prolongada nos juros. O novo Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira pelo Banco Central, mostrou queda na projeção do IPCA pela quarta semana consecutiva, com o mercado estimando inflação de 4,70% em 2025, ainda acima da meta oficial de 3%. A leitura, segundo David Martins, sócio-diretor da Brazil Wealth, reflete o efeito retardado da política monetária contracionista.

“Esse patamar de juros em 15% vem cumprindo o papel de conter a inflação, mas penaliza a economia real”, avaliou Martins em entrevista ao programa Mercado, de VEJA. “O arrefecimento dos preços é o resultado direto de uma política restritiva que, embora eficiente no controle, demora a surtir efeito pleno.”

O Focus também revisou para cima a projeção do PIB de 2025, sinalizando ligeiro otimismo com a atividade econômica, e manteve estáveis as estimativas para câmbio (R$ 5,45) e Selic. Para 2026, o consenso do mercado é de estabilidade geral — uma fotografia de prudência diante de um ambiente de juros altos e crédito restrito.

O peso do juro alto

Apesar da moderação inflacionária, o nível atual da Selic é visto como um obstáculo à retomada dos investimentos. “Com 15% de taxa básica, qualquer empresário que pense em expandir o negócio precisa garantir um retorno muito superior a isso. E, nesse contexto, poucos se arriscam”, observou Martins.

O resultado prático é um país com renda fixa atraente e renda variável esvaziada. Enquanto o Tesouro Direto e os fundos de crédito privado oferecem retornos robustos e de baixo risco, o mercado acionário segue travado. “A bolsa sofre porque o investidor prefere ficar na segurança. O custo de oportunidade é alto demais”, completou o economista.

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Os números também refletem a pressão sobre o setor corporativo: o volume de pedidos de recuperação judicial, que já havia batido recorde em 2024, continua crescendo. “É o reflexo direto do crédito caro. A margem das empresas se comprime, o investimento encolhe, e as dívidas ficam impagáveis”, explicou Martins.

Alívio gradual, futuro incerto

A tendência de queda do IPCA ainda é tímida, mas consistente. Para o mercado, a projeção de 4,7% de inflação se encaixa dentro da banda de tolerância do Banco Central (de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo). Mesmo assim, a convergência até a meta de 3% parece distante.

O Focus aponta que a trajetória de corte dos juros deve começar apenas em 2026, com a Selic recuando a 12,25%, o que ainda seria considerado um nível elevado por padrões históricos. “Estamos diante de um quadro em que o Banco Central mantém a rédea curta para garantir credibilidade, mas isso cobra um preço alto do crescimento”, avaliou Martins.

Entre o alívio inflacionário e o peso dos juros, o país caminha sobre uma corda bamba. O equilíbrio entre estabilidade de preços e estímulo à atividade segue sendo o maior desafio da política econômica — e, até aqui, o mercado aposta que a cautela continuará ditando o ritmo do jogo.

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