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O desafio de formar engenheiros no Brasil

Poucos setores são tão estratégicos para o país quanto a Engenharia. É dela que dependem nossa infraestrutura, nossa energia, nossa tecnologia e boa parte da indústria. Mesmo assim, já falta gente para sustentar esse futuro: a Confederação Nacional da Indústria (CNI) calcula um déficit de 75 mil engenheiros.

O problema começa muito antes do mercado. Uma pesquisa inédita realizada pelo Instituto Locomotiva a pedido do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), que há 61 anos conecta jovens ao mercado de trabalho, revelou números alarmantes: apenas 12% dos estudantes do ensino médio têm interesse em cursar Engenharia. Em termos populacionais, isso equivale a pouco mais de 2,3 milhões de jovens no Brasil. Muito pouco para um país do nosso tamanho.

As razões estão claras. Mais de um terço dos estudantes se sentem inseguros com matérias que envolvem matemática. A média de segurança na disciplina é de apenas 5,2 em 10, e só 16% afirmam se sentir “muito seguros” com cálculos. Não surpreende que 22% dos que não querem Engenharia citem a matemática como o principal motivo da recusa.

A barreira não é apenas acadêmica. É também financeira. Oito em cada dez estudantes acreditam que os cursos de Engenharia são caros, e entre os que cogitam seguir essa carreira, 23% admitem que podem desistir por dificuldades de pagar os custos. Quando a vocação encontra o bolso vazio, o país perde futuros engenheiros e competitividade.

A pesquisa também mostra que 79% afirmam que as falhas da educação básica desmotivam a iniciar ou continuar uma graduação. Não estamos diante apenas de um problema de escolha de curso, mas de um ciclo vicioso. Uma escola que não prepara, um jovem que não se sente capaz e um mercado que fica sem profissionais em áreas críticas.

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Outro aspecto importante é a preferência de quase metade dos jovens (49%) por disciplinas de Humanas, enquanto 28% se dizem mais inclinados às Exatas. Esse resultado mostra que as escolhas passam por afinidades e interesses diversos, que vão além da lógica do mercado de trabalho, e reforça a importância de oferecer caminhos de formação que dialoguem com diferentes vocações.

O recorte de gênero deixa o quadro ainda mais desafiador: 20% dos meninos pretendem cursar Engenharia, contra apenas 5% das meninas. A desigualdade mostra o quanto ainda precisamos estimular que mais mulheres entrem no mundo dos cálculos, das Exatas e da Engenharia, garantindo não apenas mais profissionais, mas também maior diversidade nas soluções que o país vai precisar construir.

Os três principais motivos de desinteresse ajudam a desenhar o quadro: 46% preferem outras áreas, 22% têm dificuldade com cálculos e 8% esbarram em barreiras financeiras.

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Ao encomendar esta pesquisa, o CIEE reforça seu papel de ouvir os jovens e trazer à tona os desafios que eles enfrentam. Conhecer essas percepções é fundamental para que escolas, universidades, empresas e formuladores de políticas possam agir.

Entre os possíveis caminhos para aumentar a atratividade da Engenharia estão uma comunicação que valorize a diversidade de perfis da área, experiências práticas que aproximem os estudantes da profissão, maior integração da Engenharia no currículo escolar e a valorização do papel dos professores. Também é essencial combater estereótipos e incentivar que mais meninas se vejam nesse espaço.

Se quisermos um país com mais engenheiros, precisamos antes de estudantes que não desistam deles. E precisamos garantir que as mulheres também vejam nessa área um caminho possível e estimulante. O futuro da Engenharia e do Brasil depende disso.

Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva

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