A decisão do presidente Lula de indicar Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal consolidou o critério que tem guiado as nomeações no terceiro mandato: a preferência por nomes de confiança direta. É o mesmo movimento que levou Cristiano Zanin e Flávio Dino à Corte. O padrão contrasta com o dos primeiros governos, quando Lula escolheu ministros com os quais praticamente não tinha convivência — como Ayres Britto, César Peluso, Joaquim Barbosa e Cármen Lúcia.
A escolha também ignorou a forte pressão para que a nova vaga fosse ocupada por uma mulher negra, demanda que cresceu dentro e fora do governo. Havia muitos nomes qualificados, mas Lula se manteve inflexível e priorizou Messias desde o início.
Ao seguir esse caminho, o presidente abriu um flanco de tensão com uma das figuras mais influentes do Congresso. Davi Alcolumbre, presidente do Senado, articulava pela indicação de Rodrigo Pacheco. Além de comandar a agenda legislativa, Alcolumbre tem papel decisivo na tramitação das sabatinas e no ritmo das votações. A indicação contrariou um pleito que, entre os senadores, era visto como gesto de reconhecimento por sua atuação nas crises institucionais recentes.
A reação veio de imediato. No dia seguinte ao aviso de que Messias seria o indicado, votações relevantes começaram a cair. A Comissão de Assuntos Econômicos adiou a análise do projeto que eleva a tributação de bets e fintechs, matéria central para as contas públicas de 2026. A sessão incluiria a apresentação da complementação de voto do relator Eduardo Braga, mas foi retirada da pauta após articulações internas. No Senado, cancelamentos desse tipo não são acidentais: funcionam como recado político claro.
No mesmo dia, outras votações previstas no plenário também foram interrompidas, confirmando o desconforto com a indicação. A avaliação é que Lula ignorou a expectativa de uma cúpula que vinha colaborando para amortecer tensões com a Câmara, onde o presidente Hugo Motta demonstra resistência a pautas do governo.
A resposta nada silenciosa do Senado ao veto de Lula a Pacheco no STF
Nesse ambiente, a sabatina de Messias tende a ser mais política que técnica. Não há dúvida sobre sua qualificação jurídica, mas a irritação de Alcolumbre tornou o cenário mais incerto do que o Planalto previa. Nos bastidores, a leitura não é de ruptura, mas de uma relação que entrou em zona delicada e exigirá reconstrução.
A escolha pode se justificar para Lula pelo critério da confiança, mas politicamente abriu uma disputa que ele ainda precisará administrar. A indicação foi apenas o primeiro movimento. Agora começa a luta mais difícil: garantir os votos para aprovar Messias no Senado.