Há 300 milhões de anos, quando troncos e outras partes de árvores, em condições de pressão e calor extremos, foram se transformando em carvão, lançaram-se as bases para a futura transformação da humanidade. O combustível arrancado à terra revolucionou a produção e propiciou a maior criação de riquezas da história dos bípedes pelados, inventivos seres sempre à procura de progredir na vida. O carvão da Revolução Industrial também transformou a China de famélico império comunista na potência atual, comunista no controle político, capitalista na prática econômica. Consequentemente, elevou o país à condição de maior emissor de dióxido de carbono do mundo, num volume três vezes maior do que o segundo colocado, os Estados Unidos.
A China tem planos ambiciosíssimos de fazer a transição para matrizes limpas até 2060 e a promessa de céu azul, um dos pilares do “pensamento do presidente Xi Jinping”, pode ser vista em cidades hoje em situação melhor do que na época da poluição tão forte que parecia mergulhá-las numa constante neblina, à la Blade Runner.
Mas é inacreditável que tantos especialistas climáticos participem da COP30 e esse não seja um dos temais mais importantes de todos. Em vez disso, houve um festival de críticas, abertas ou indiretas, a Donald Trump, que tirou os Estados Unidos de acordos climáticos pelos quais pagariam grandes quantidades de dinheiro a países como, adivinhem só, a China e a Índia.
As fontes de energia são um dos sustentáculos fundamentais do poder geopolítico e Trump não quer ver os Estados Unidos limitando voluntariamente os prodigiosos recursos naturais do país de 9,8 milhões de quilômetros quadrados, do Atlântico ao Pacífico. Pode ser criticado, malhado, execrado por isso? Sem dúvida nenhuma. Mas fazer isso e isentar a China de um único murmúrio é má-fé.
VERDES DE RAIVA
A previsível falta de consequências da COP30, fora oferecer palanque aos de sempre – e mesmo assim a nem todos, dada a ausência em massa de chefes de Estado e de governo – também coincide com um momento pouco brilhante, quando resultados de grandes projetos ambientais estão sendo reavaliados. Ou seja, o timing foi ruim. Até Bill Gates, o homem de 102 bilhões de dólares, alarmista-mor dos terrores do aquecimento climático, já mudou o discurso e substituiu mudança do clima por combate à pobreza
Um exemplo das contestações: o jornal The Telegraph elencou projetos ambientais totalmente furados, bancados pelos contribuintes britânicos através da iniciativa chamada Finanças Climáticas Internacionais., uma criação “verde” do Partido Conservador quando estava no poder e achava, como tantos outros, que precisava parecer ativo na questão ambiental.
Um deles fica mais ou mesmo no mesmo rumo de Belém, descontando-se as distâncias amazônicas, e é de deixar os súditos verdes de raiva: uma estrada que ligaria Georgetown ao território brasileiro, algo em si já altamente discutível, considerando-se a derrubada de floresta. Custo da coisa para os súditos britânicos, 52 milhões de libras, ou 6,5 vezes a mais em reais, um terço do total. Teste de realidade: por algum estranho motivo, o dinheiro acabou e a estrada parou num vilarejo de 150 habitantes.
Graças ao petróleo descoberto recentemente, a Guiana hoje é um país rico, com 30 mil dólares de PIB per capita, três vezes a mais do que o Brasil. Não está exatamente precisando de dinheiro dos escorchados contribuintes britânicos, obrigados a aturar um atraso de sete milhões de consultas no serviço público de saúde. Outro produto bizarro da propaganda verde deu dinheiro para a Nigéria administrar sustentavelmente seus riquíssimos recursos petrolíferos e para o Congo distribuir camisinhas, contando que a diminuição do crescimento populacional diminua o impacto da destruição das florestas no coração da África.
Fica para outra ocasião falarmos no nível de devastação ambiental em países africanos, outro assunto desaparecido do debate.
INGÊNUOS DE BOM CORAÇÃO
Poluidor bom é poluidor rico, tipo Noruega, um país disposto a compensar a culpa por viver da fartura do petróleo do Mar do Norte (87 mil dólares de PIB per capita) pondo dinheiro em projetos duvidosos.
Quinto país menos corrupto do mundo, a Noruega procura cercar seus projetos de ajuda de todas as garantias e controles, aparentemente sem se dar conta que os profissionais do desvio sempre são mais espertos.
Isso não significa que a manutenção das florestas não mereça compensação. É justo e necessário que isso aconteça. Mas quem vigiará os compensados? Irá o Congo administrar bem os recursos, da mesma forma como fez com as camisinhas? Como garantir que a coisa toda não vire uma Ong deturpada, em que contribuições dos bem intencionados são usados para manter na boa vida a diretoria sempre disposta aos mais radicais discursos climáticos? ˙Há Ongs que pagam a seus diretores até 30% ou mais – chegando a 90%, acreditem – de todos os recursos arrecadados. É ético isso?
Malhar os Estados Unidos, eximir a China, administrar recursos pessimamente, ameaçar sem parar a humanidade de extinção por sua própria culpa e dar um aplique nos ricos são atitudes prejudiciais, que podem redundar no efeito contrário ao necessário para a participação de todas as populações na proteção do meio-ambiente. Expressão esta hoje nem mais usada, substituída erradamente por mudanças climáticas, para passar uma impressão de urgência.
Os ingênuos de bom coração caem em todas as armadilhas. O uso e abuso da imagem do príncipe herdeiro William comprovou isso – e como o futuro rei foi mal orientado. Enquanto os espertalhões, como sempre, só tramam para se dar bem. Alguém sinceramente pode achar que o presidente colombiano Gustavo Petro deve ser ouvido em qualquer tipo de assunto? Um sujeito que já disse que o petróleo é pior do que a cocaína, da qual seu país é o campeão? Qual o benefício para o meio-ambiente um político desse calibre pode proporcionar? Aliás, o carvão ainda compõe 8% da matriz energética colombiana e o gás natural, 14%. Muito melhor do que a China, mas ainda longe da pureza à Savonarola pregada por um presidente cujo combustível é o uísque.