O ministro Alexandre de Moraes reabriu a investigação sobre a suposta interferência de Jair Bolsonaro na Polícia Federal. A decisão reacende um fantasma que marcou o governo do ex-presidente: o uso político de instituições de Estado. Durante seu mandato, Bolsonaro trocou chefes da PF, pressionou ministros e deu sinais claros de que desejava controlar investigações sensíveis – especialmente contra os seus familiares.
Agora, o Supremo volta a olhar para esse passado — e a mensagem é inequívoca: nenhum abuso de poder está esquecido, mesmo que o cenário seja outro.
Bolsonaro está preso — e, portanto, não pode mais se colocar no papel de vítima. Moraes não fala mais a um presidente em exercício, nem a um líder em campanha, mas a um homem que perdeu a liberdade. Reabrir esse caso agora é mais do que revisitar o passado: é reafirmar que o poder de um governante não o absolve da responsabilidade pelos próprios atos.
Desde 2020, esta coluna apontava que a tentativa de interferência na Polícia Federal era o fio que revelava o verdadeiro projeto de Bolsonaro: controlar as engrenagens do Estado para proteger os seus e intimidar os outros. Foi ali, na PF, que se testou a fronteira entre governo e estado — e, ao tentar cruzá-la, o então presidente mostrou o quanto via a democracia como obstáculo, não como regra.
O tempo passou, mas o sentido político permanece. A reabertura da investigação não é um gesto de revanche, e sim de coerência. Num país acostumado a arquivar escândalos, voltar a um caso essencial é sinal de maturidade institucional. Moraes não desenterra apenas um inquérito — desenterra um forte lembrete: quando o poder tenta dominar quem deve vigiá-lo, a República adoece.