Irá o presidente Donald Trump ser arrastado pelo escândalo sexual que continua a crescer ou ficará provado que houve uma conspiração para plantar um falso bilhete de Jeffrey Epstein para implicá-lo?
Estas são algumas das alternativas de tirar o fôlego, que não dão folga em pleno Natal. Enquanto não são revelados os nomes dos dez cúmplices que foram investigados pelo FBI na época da segunda e final prisão de Epstein, fervilham as especulações sobre a plantação de uma espécie de mensagem suicida deixada pelo milionário para outro abusador sexual de adolescentes, Larry Nassar, que cumpre pena de prisão por violações em série, como médico, de ginastas da equipe olímpica dos Estados Unidos.
Problema: a mensagem é falsa – mas inúmeras publicações continuam a manter os títulos e textos que a dão como verdadeira. Todos teriam a obrigação de dar o mesmo destaque ao desmentido, mas todo mundo sabe que poucos o farão.
Se fosse verdadeiro, o bilhete representaria a derrocada de Trump, pela qual tantos torcem. Imaginem o impacto de uma comunicação entre os dois mais conhecidos abusadores de adolescentes dos Estados Unidos. Além das palavras cínicas de Epstein referentes a “nosso amor e carinho por meninas jovens e a esperança de que atinjam todo o seu potencial”.
‘AMIGAS IMPRÓPRIAS’
Vem então a referência a Trump: “Nosso presidente também compartilha nosso amor por jovens núbeis”. Em seguida, há um trecho intraduzível e impublicável, sobre o “presidente” que agarrava os genitais femininos quando uma beldade jovem passava, mas hoje são eles, Epstein e Nassar, que estão pegando outra coisa nos refeitórios das prisões onde estavam encerrados.
As datas, o local e a letra do bilhete não batem, mas o gênio saiu da garrafa e muitos estarão convencidos de que Epstein realmente implicou Trump. Obviamente, não se exclui que isso ainda venha a acontecer. Há mais de um milhão de documentos ainda por serem divulgados.
A mistura de provas fake e fatos verdadeiros é chocante, pois uns tendem a dar credibilidade aos outros. Existe também um depoimento do irmão do abusador que se suicidou em 2019, Mark Epstein, dizendo que o assassinato de Jeffrey foi “autorizado por Trump” porque ele ia começar a dar nomes.
Na verdade, todos os nomes já são conhecidos, embora apenas dois, o ex-príncipe Andrew e o ex-secretário da Fazenda e reitor de Harvard, Larry Summers, tenham perdido posições importantes por seu envolvimento muito próximo com Epstein. É possível que a lista aumente ou até envolva judicialmente os dois mencionados e mais outros homens conhecidos.
Há, por exemplo, um e-mail de Andrew a Ghislaine Maxwell, a principal aliciadora de Epstein, por quem era apaixonada embora o milionário se interessasse apenas meninas muito jovens, perguntando se ela tinha arranjado mais “amigas impróprias” para ele. É um indício que pode ser tomado pela justiça britânica como ponto a ser investigado. Em vez de apenas banido da vida pública e da família real britânica, o ex-príncipe poderia acabar processado, pois crimes sexuais hoje têm um caráter transnacional.
CINQUENTA BRASILEIRAS
A técnica usada por Epstein e Maxwell para aliciar uma quantidade interminável de meninas foi especificada pela brasileira Marina Lacerda. Levada a Epstein por uma “amiga” quando tinha apenas 14 anos, ela passou também a procurar meninas bem jovens que atendessem às demandas estéticas e sexuais do milionário, a quem deveriam massagear e masturbar. Nessa corrente, Marina acha que cerca de cinquenta jovens brasileiras frequentaram a mansão de Epstein em Nova York, segundo disse ela à BBC Brasil.
Os novos documentos revelados por uma comissão do Congresso também mostram um Epstein acabado em seus dias finais, tendo já feito uma tentativa de suicídio que, como tudo que se relacione com o caso, provoca dúvidas.
Com o “colete antissuicídio”, uma túnica acolchoada sem mangas e fixada ao corpo nem qualquer detalhe que possa ser usado para tirar a própria vida, ele parece velho e alquebrado. Pouco lembra o homem que circulava entre nomes como Bill Clinton e Bill Gates, o então empresário imobiliário Donald Trump, Michael Jackson, Mick Jagger, Woody Allen, o ex-primeiro-ministro israelense Ehud Barak, Stephen Hawking, Noam Chomsky e mais uma coleção de intelectuais, cientistas, artistas e milionários aparentemente unidos pelo mesmo sentimento: podiam fazer o que quisessem.
Nenhum deles jamais se afastou de Epstein por causa da constante circulação de meninas adolescentes à sua volta.