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O brilho do Rei Sol: as novas descobertas sobre o astro que ilumina o nosso sistema planetário

O Sol nos ajuda a iluminar quem somos ou, dito de outro modo, é atalho para sugerir humildade diante de tanta imensidão. Vista da superfície do astro-rei, a Terra é um irrisório grão de areia girando à remota distância de 150 milhões de quilômetros. Mesmo assim, a ínfima parcela de luz e calor que efetivamente alcança o planeta — em vez de perder-se em outras direções no espaço vazio — é suficiente para dar vida e movimento a oceanos, ventos, florestas, a cada um e a todos os organismos. Sem ele, não teríamos, por exemplo, belezas como Here Comes the Sun, de George Harrison, clássico solar dos Beatles, e as infindáveis metáforas para o amor promovidas pela bola de gás e fogo.

A energia vital, que os antigos atribuíam aos deuses, pode hoje ser calculada com precisão. Equivale à eletricidade que seria gerada por 10 bilhões de hidrelétricas do porte de Itaipu. Não admira que o homem primitivo — e o já nem tão primitivo assim — tenha adorado o Sol sobre todas as coisas, num culto feito de reverência e temor. Não por acaso, qualquer descoberta a tangenciar a estrela central produz burburinho. Na semana passada, a revelação das primeiras fotos do polo sul do Sol, feitas pela espaçonave Solar Orbiter (SOLO), da Agência Espacial Europeia (ESA) e da Nasa, serviram a entusiasmo estético e científico, em proporções semelhantes.

PIONEIRO - Copérnico: “O Universo não é benevolente, nem hostil”
PIONEIRO - Copérnico: “O Universo não é benevolente, nem hostil”Bettmann/Getty Images

As imagens mostram o polo sul a uma distância de cerca de 65 milhões de quilômetros e foram obtidas em um período de máxima atividade solar. Até agora, todas as visualizações do Sol vieram do mesmo ponto de observação: olhando de frente para seu equador a partir do plano em que a Terra e a maioria dos outros planetas do sistema solar orbitam, chamado de plano eclíptico. Em fevereiro, a espaçonave utilizou um sobrevoo ao redor de Vênus para sair desse plano e observar o Sol a partir de até 17 graus abaixo do equador solar. Futuras jornadas investigativas previstas proporcionarão uma visão ainda mais inusitada, além de 30 graus. É um grande feito. “O melhor ainda está por aparecer. O que vimos foi apenas uma primeira olhada rápida”, disse o físico Sami Solanki, do Instituto Max Planck para Pesquisa do Sistema Solar, na Alemanha. Ele lidera a equipe científica de um dos instrumentos da espaçonave em órbita.

Por meio das fotos, a registrar a porção do sul, é possível, para os especialistas, entender um pouco melhor a atividade magnética caótica dos polos solares. Na Terra, o norte magnético se encontra próximo ao Polo Norte geográfico. O sul magnético, é claro, dá as mãos para o Polo Sul. A cada 450 000 anos dá-se uma inversão, atalho para bagunçar, por exemplo, as redes de comunicação que usamos. No Sol, há uma imensa barafunda. A cada onze anos, em média, o magnetismo de um lado troca com o do outro. É um caos, que a operação SOLO ajuda a organizar. Soa um tanto hermético, talvez seja mesmo, mas compreender a dança pode ajudar a prever os movimentos do Sol que nos afetam cá embaixo. Eventos como as erupções e o chamado vento solar, o fluxo de partículas que o Sol lança no espaço, podem interferir em satélites e redes elétricas. Mexem com a segurança dos astronautas. Atrapalham o tráfego de aviões. Tendem a produzir apagões de GPS. Uma ideia mais clara das ocorrências do rei Sol é uma mão na roda para a turminha terráquea.

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CLOSE - Sonda Solar Orbiter: registros fundamentais para a ciênciaESA/.

Desde que o astrônomo renascentista Nicolau Copérnico (1473-1543) propôs que é o Sol e não a Terra o centro do nosso sistema planetário, os estudos sobre o astro não cessam de iluminar a ciência. Ao fornecer uma visão sem precedentes das suas regiões polares e do comportamento do seu enorme campo magnético, os resultados de agora ampliam nossa compreensão desse cantinho da Via Láctea. A missão Solar Orbiter é uma espécie de janela para o conhecimento, que destaca a importância de desvendar e compreender as conexões entre o Sol que nos acalenta e a vida no planeta que habitamos. E convém sempre, especialmente agora que nos aproximamos da luz que nos rege, ter em mente uma bonita frase de Copérnico: “O Universo não parece ser nem benevolente nem hostil, apenas indiferente”.

Publicado em VEJA de 20 de junho de 2025, edição nº 2949

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