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“O Brasil tem grande potencial de sequestro de carbono na pecuária”, diz diretora da JBS

A pecuária brasileira pode deixar de ser vista como vilã do clima e passar a integrar as soluções para a crise ambiental. Em entrevista ao programa VEJA+Verde, Liège Correia, diretora de sustentabilidade da JBS, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, disse que sistemas produtivos bem manejados, com tecnologias de integração lavoura-pecuária-floresta e agricultura regenerativa, são capazes de sequestrar mais carbono do que emitem. Ela abordou também os desafios da rastreabilidade, a importância dos escritórios verdes e o papel do Brasil como protagonista na COP30, em Belém.

Correia, que coordena iniciativas de monitoramento socioambiental da cadeia de fornecimento da JBS, ressalta que o Brasil possui diversas “pecuárias” — desde a profissional, que abastece mercados internos e exporta para mais de 190 países, até sistemas ineficientes ligados à ocupação exploratória de terras. “A mudança do uso da terra, quando feita de uma maneira consciente, principalmente na recuperação de áreas degradadas, permite ter uma pecuária extremamente eficiente e que é parte da solução, não só da mudança climática, mas também na insegurança alimentar”, diz a executiva.

Um estudo realizado pela JBS em parceria com a FGV analisou 100 propriedades que adotam manejo sustentável e técnicas de agricultura regenerativa. Os resultados mostraram que 30% delas sequestravam mais carbono do que emitiam, outros 30% apresentavam equilíbrio e o restante tinha potencial de melhoria. “Se expandirmos esse número, podemos extrapolar e ver que há um potencial enorme de sequestro de carbono em sistemas bem manejados, no caso da pecuária”, explica Correia.

A rastreabilidade foi outro ponto crucial abordado na entrevista. Desde 1990, o Brasil conta com a Guia de Trânsito Animal (GTA), que se tornou eletrônica em 2012, mas com foco sanitário. Agora, o desafio é incorporar camadas socioambientais ao sistema. “Trata-se de saber se o lugar de onde esse animal saiu, aquela fazenda, aquela propriedade, estava legal do ponto de vista de código florestal, da legislação brasileira ou não”, explica. A diretora destaca um decreto do Pará que tornará obrigatória a rastreabilidade individual dos animais e menciona ferramentas como a Plataforma Pecuária Transparente e um chatbot, chamado de “Cowbot”, que permitem aos produtores consultar o status socioambiental de propriedades antes de realizar negócios.

Os escritórios verdes, lançados em 2021, são outra iniciativa estratégica. Inicialmente com três unidades, hoje são 20 espalhadas pelo Brasil, oferecendo assistência técnica gratuita para regularização ambiental de propriedades rurais. “A gente já conseguiu regularizar mais de 20 mil propriedades ao longo desses anos”, afirma Correia. O serviço está disponível para qualquer produtor rural, não apenas fornecedores da JBS, e inclui orientações sobre recomposição florestal, cercamento de áreas e aumento de produtividade.

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Sobre a COP30, Correia vê uma oportunidade para o Brasil demonstrar que é “parte da solução climática” e que o agronegócio profissional, quando conduzido de forma responsável, contribui tanto para a segurança alimentar quanto para a mitigação das mudanças climáticas. “A COP é um balizador daquilo que a gente vem discutindo há anos”, ressalta, destacando a importância de responsabilidades compartilhadas entre setor privado, governos e produtores.

O VEJA+Verde, apresentado pelo editor Diogo Schelp, traz a cada episódio entrevistas com lideranças empresariais, gestores públicos e especialistas para discutir soluções que conciliem desenvolvimento econômico e preservação ambiental, em preparação para os debates da COP30.

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