O desfile da Handred, no São Paulo Fashion Week, começou antes mesmo do primeiro passo na passarela — no instante em que o céu se abriu para o crepúsculo, o “sonho” idealizado pelo estilista André Namitala começou a ganhar corpo em uma performance que abria caminho para a apresentação, mas em uma celebração do corpo, do tecido e da noite. “O sonho dessa coleção é um sonho acordado. Ele não desperta pela manhã — é um sonho que começa ao entardecer”, disse ele.
Assim, se construiu o desfile-espetáculo Baila, com uma passarela que da densidade passou ao brilho e movimento. “É um desfile que representa uma passagem. Ao mesmo tempo que é lúdico, é denso; até a trilha tem esse peso inicial, para depois se abrir e ganhar leveza”, contou André.
Inspirada na Era de Aquarius, época de expansão de consciência e libertação dos sentidos, a coleção verão 2026 mergulha em cores profundas: berinjela, champanhe e marrom. A cartela traduz o início da noite, antes que a festa comece. E nela, o brilho não é excesso — é emoção materializada. Canutilhos, pedrarias e bordados esculpem texturas em seda e couro com a delicadeza de quem costura um sonho. “Há peças com até cinco tipos diferentes de bordado aplicados em um único modelo. Essa mistura de técnicas me interessa porque cria uma espécie de alquimia — um fragmento de sonho costurado em cada peça”, explicou o designer.
A escolha de trabalhar apenas com seda e couro reflete uma busca por pureza e contraste. O couro — de origem aquática, como pirarucu e salmão — surge leve, flexível, quase líquido. A seda, em contraponto, vibra com a luz e o movimento. Juntos, criam o diálogo entre vulnerabilidade e força, entre o que brilha e o que protege. “A pele é o tecido — é com ela que sentimos, respiramos, nos acolhemos e nos ferimos. O tecido é o meu gatilho criativo”, afirma André.
Na última parte do desfile, a Handred se abre em festa. Os comprimentos encurtam e as silhuetas se soltam. “É como se fosse um baile a céu aberto”, resume o estilista. E é mesmo: um baile de liberdade, onde o vestir se torna gesto e o movimento, poesia. Não à toa, “Baila” realmente acabou em balada na imperiosa Casa Higienópolis. A cada dobra de seda, a cada marca do couro, um convite para dançar nessa aura do sonho desperto.








