Um dia antes do voto que abalaria o STF, Alexandre de Moraes e Flávio Dino fizeram questão de mirar diretamente Luiz Fux. Ambos usaram a tribuna para recordar episódios em que o colega foi alvo do bolsonarismo radical, numa espécie de aviso público sobre o caminho que ele poderia seguir.
Moraes foi explícito ao lembrar a ameaça que recebeu em setembro de 2021, quando Fux presidia o Supremo: “Ou o chefe desse poder enquadra esse ministro, ou vai sofrer aquilo que ele não quer”. Para o relator, não se tratava de uma frase isolada, mas de um ataque direto ao próprio presidente da Corte à época — justamente Luiz Fux.
Dino reforçou a mesma ideia com um relato ainda mais dramático. Ele recordou que, durante os atos golpistas daquele 7 de setembro, o então presidente do STF precisou passar a noite no tribunal, temendo um ataque armado. “Houve uma ameaça de ataque ao Supremo que não se consumou, mas que fez com que o ministro Luiz Fux passasse a noite no Supremo, e ele temia atiradores de elite”, disse Dino.
O episódio, aliás, já havia sido narrado pelo próprio Fux, em entrevistas, como “o momento mais delicado” de sua gestão. Segundo ele, magistrados chegaram a permanecer “a madrugada acordados e vigilantes” diante da ameaça de invasão do prédio do Supremo e até da possibilidade de implosão da sede.
O contraste é evidente: o ministro que viveu na pele as agruras do bolsonarismo radical escolheu pedir a nulidade de todo o processo, alegando vícios de origem e incompetência do STF. Uma posição que contraria o relator, diverge de toda a acusação e de Moraes e, na prática, dá fôlego à narrativa dos réus.
A advertência estava feita. Com todas as letras, Moraes e Dino relembraram a Fux que ele próprio esteve “na linha de tiro” quando o extremismo tentou enquadrar o Supremo. Ainda assim, o ministro optou por caminhar na contramão dos fatos que o atingiram diretamente.
O paradoxo salta aos olhos: o ministro que já esteve refém do bolsonarismo radical hoje relativiza as mesmas ameaças. Para alguns (e quando digo isso são as boas fontes que tenho no STF há duas décadas), soa quase como uma síndrome de Estocolmo institucional, onde a vítima que passa a ver razão em seu algoz.