Descendente direto de reis franceses, o conde de Paris, Jean d’Orléans, fez um apelo aos ladrões do Louvre para que “devolvam nossas joias”, quase duas semanas após o roubo ao museu mais famoso da França chocar o país e abrir uma caçada que já prendeu sete suspeitos — mas não recuperou nenhuma das preciosidades subtraídas da Galeria Apollo. Em entrevista à agência de notícias Reuters publicada nesta sexta-feira, 31, o homem cuja bisavó usou uma tiara de safiras que está entre os objetos afanados implorou que as joias sejam recuperadas em nome do patrimônio francês e de sua família.
“Devolvam nossas joias, ainda há tempo”, disse d’Orléans, de 60 anos, à Reuters, que falou com o conde na propriedade real de Dreux, a 70 quilômetros de Paris. “É algo pessoal e íntimo”.
Com a agência de notícias, ele compartilhou fotografias da família que mostravam sua bisavó, a Duquesa de Guise, usando a tiara de safiras e diamantes do Ceilão em 1931. “Essas joias eram usadas em ocasiões especiais, eventos familiares, às vezes também para compor um retrato específico”, contou.
Outra foto mostrava a tiara sendo usada pela avó do conde, Isabelle d’Orléans-Bragance, pela última vez no casamento da Princesa Astrid da Bélgica, em 1984, antes da peça ser vendida ao museu por seu avô em 1985 por 5 milhões de francos (aproximadamente R$ 9,35 milhões, no valor corrigido pela inflação). O conjunto de safiras, adquirido em 1821 pelo rei Luís Filipe para a rainha Hortência, permaneceu na família Orléans por mais de um século antes de ser exibido ao público no Louvre.
O “roubo do século”
Em apenas sete minutos, quatro assaltantes invadiram, pela janela, o segundo andar do Louvre, acessando a Galeria Apollo por meio de uma plataforma de elevação característica de caminhões de mudança — o veículo teria sido roubado pouco tempo antes, segundo a polícia. Eles cortaram o vidro usando uma espécie de serra elétrica portátil, se apossaram de oito peças da coleção de joias da coroa francesa, e depois voltaram pelo mesmo caminho, fugindo, em seguida, de motocicletas pelas margens do rio Sena. Tudo isso enquanto turistas estavam lá dentro.
O grupo levou cerca de US$ 102 milhões em joias. Os oito itens roubados datam do século XIX, entre eles um colar de diamantes e esmeraldas da imperatriz Maria Luísa, que ganhou de Napoleão Bonaparte por ocasião de seu casamento, uma coroa da imperatriz Eugênia, adornada com mais de 1.300 diamantes e 56 esmeraldas, e o conjunto de safiras com tiara, colar e brincos que pertenceu à rainha Maria Amélia e à rainha Hortência. Foi o maior roubo no Louvre desde o furto da Mona Lisa, em 1911.
Dois suspeitos foram presos no fim de semana, um deles no Aeroporto Charles de Gaulle, enquanto tentava deixar a França. Outros cinco foram detidos na quarta-feira na capital francesa e arredores.
A ministra da Cultura, Rachida Dati, pressionada, tem se mantido na defensiva — recusando a renúncia da diretora do Louvre e insistindo que os alarmes funcionaram, embora tenha reconhecido que “existiam falhas de segurança”. Ela procurou manter os detalhes ao mínimo, alegando que as investigações ainda estão em andamento.
O conde exortou os ladrões a devolverem as joias intactas.
“Para nossa família, para o povo francês, é importante que essas joias retornem à sua vitrine no Louvre”, disse ele, que deu a entrevista à Reuters em uma grande sala de estar repleta de retratos de monarcas franceses, incluindo Henrique IV, Luís XIII, Luís XIV e Maria Antonieta. Ele acrescentou que o museu deveria usar uma sala reformada e mais segura para exibir os tesouros.
“É um patrimônio inestimável”, declarou ele, “precisamos recuperá-lo.”
