No programa Mercado, a jornalista Veruska Donato entrevistou o ex-ministro da Fazenda e economista Maílson da Nóbrega, colunista de Veja, para fazer um balanço de 2025 e traçar cenários para 2026, com o olhar dividido entre economia global e Brasil eleitoral. Para ele, o principal choque do ano veio do “tarifaço” de Donald Trump — que, além de intimidar parceiros e bagunçar regras do comércio, já começou a produzir efeito colateral nos EUA, como pressão inflacionária e desgaste político. Nóbrega avalia que essa imprevisibilidade ajudou a corroer a confiança nos Estados Unidos como “farol”, contribuindo para a desvalorização do dólar, mesmo com juros americanos ainda altos.
No tabuleiro geopolítico, o ex-ministro diz que o dólar deve continuar dominante por muitos anos, e que a grande variável do “desafio chinês” é produtividade — além do freio demográfico que pode reduzir o ritmo de crescimento da China e impedir a ultrapassagem dos EUA. Sobre o multilateralismo, ele é cético: Trump aposta no bilateralismo e tem poder de retaliação, o que faz muitos países engolirem seco; e hoje, na visão dele, só o Judiciário americano teria força para conter excessos, caso considere as tarifas ilegais.
Já no Brasil, Nóbrega afirma que 2026 tende a elevar a volatilidade porque a disputa ainda está aberta e há mais nomes competitivos do que em eleições passadas, com destaque para governadores bem avaliados. Mas o recado central vai para o pós-urna: o vencedor terá de lidar com a fragilidade fiscal e com reformas espinhosas — e aí mora a armadilha política. Ele diz que “responsabilidade fiscal” vira discurso obrigatório, mas detalhar medidas impopulares na campanha pode custar votos; por isso, o ajuste tende a ser prometido em tese e empurrado para a hora da verdade. Na economia, projeta desaceleração do PIB em 2026, inflação cedendo e início de queda da Selic, enquanto o agronegócio segue como âncora externa que ajuda o país a evitar crises clássicas de balanço de pagamentos.