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Nova versão de ‘Anthology’ expõe o negócio lucrativo da beatlemania

Em 1995, 25 anos após o fim da mais lendária banda de rock da história, os Beatles quase voltaram à atividade. Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison queriam trabalhar em novas músicas, mas lhes faltava um membro: o cantor e compositor John Lennon, assassinado em 1980. Determinados a jamais substituí-lo, foram atrás de fitas guardadas por Yoko Ono, viúva do amigo, e lançaram assim Free as a Bird, que ascendeu ao Top 10 das paradas americana e inglesa e anunciava uma ambiciosa retrospectiva: o projeto The Beatles Anthology, composto por um livro, uma série documental de oito episódios e três volumes de discos duplos com gravações inéditas que encapsulavam os bastidores do grupo. Aquela parecia uma despedida digna — mas não foi o final da história.

Passados quase trinta anos, McCartney e Starr finalizaram outra faixa, Now and Then (2023), com auxílio de inteligência artificial no restauro dos vocais e piano de Lennon (McCartney homenageou Harrison, que morreu em 2001, incluindo na faixa um solo de guitarra ao estilo de George). A canção ganhou um Grammy e levou os Beatles de volta às paradas. Desbravando as portas abertas pelo avanço tecnológico, descobriram também que nem tudo já havia saído do baú: no dia 21 de novembro, chega às plataformas de streaming Anthology 4, disco de 36 faixas, entre elas registros da banda no estúdio e algumas mixagens renovadas. Cinco dias depois, a série de mesmo nome chega ao Disney+ com um nono episódio composto por material e entrevistas inéditos. Em curso lá se vão seis décadas, a beatlemania não se esgota e continua a unir arte e negócios.

Os Beatles não são só pioneiros enquanto músicos: afinal, ditaram tendência como empresários quando fundaram a Apple Corps em 1963. Hoje, a empresa supervisiona reedições e o merchandising oficial da banda, enquanto os direitos de publicação do catálogo são chefiados por McCartney, em acordo com a Sony Music Publishing. A harmonia foi estabelecida em 2017 após anos tortuosos: Michael Jackson adquiriu o catálogo da banda em leilão nos anos 1980 e, mais tarde, vendeu 50% dele à Sony, que adquiriu a outra metade em 2016 após a morte do pop star, em 2009. Depois de breve batalha judicial, a corporação e McCartney se resolveram em sigilo, e os direitos têm sido gradualmente transferidos a ele.

CÁPSULA DO TEMPO - O box luxuoso de Anthology: registro dos bastidores ganhou quarto volume após trinta anos
CÁPSULA DO TEMPO - O box luxuoso de Anthology: registro dos bastidores ganhou quarto volume após trinta anos./Disney+

Nesses moldes, a Apple Corps teve lucro equivalente a 27 milhões de dólares em 2024 e rendeu quase 7 milhões para cada acionista: McCartney, Starr e as viúvas Yoko Ono e Olivia Harrison. O valor é menor do que em 2021, quando foi lançada a série The Beatles: Get Back, de Peter Jackson, mas deve aumentar novamente após o lançamento de Anthology 4, cujas luxuosas cópias físicas são vendidas no Brasil por valores entre 199,90 e 2 849,90 reais. Além disso, a nostalgia em torno dos Fab Four renderá quatro cinebiografias hollywoodianas com orçamento na casa das centenas de milhões, todas previstas para 2028.

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Tanto sucesso é raro na administração do legado de bandas, dificultada pelos interesses de herdeiros e relegada a empresas externas. Uma delas, a americana Iconic Artists Group, gerencia a propriedade intelectual dos Beach Boys e de artistas vivos ou mortos, como Nat King Cole e Rod Stewart. Outros espólios firmam acordo com gravadoras para o lançamento do material: os direitos de David Bowie, por exemplo, foram vendidos à Warner Chap­pell Music por 250 milhões de dólares em 2022. Nesse mercado da nostalgia, porém, nada se compara ao poder dos Beatles.

Publicado em VEJA de 21 de novembro de 2025, edição nº 2971

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