O julgamento do chamado “núcleo quatro” da trama golpista de 8 de janeiro, que reúne sete réus acusados de disseminar desinformação para pressionar as Forças Armadas e desestabilizar as instituições, tende a consolidar a linha dura do Supremo Tribunal Federal em relação aos ataques contra a democracia.
A avaliação é do jornalista Robson Bonin, colunista de Radar, que comentou o tema no programa Ponto de Vista, apresentado por Marcela Rahal. Segundo ele, essa nova etapa do processo — embora pareça menos vistosa que a primeira, quando a cúpula do golpe foi condenada — tem importância decisiva por tratar do braço digital da conspiração.
“O Supremo pode definir nesse julgamento algum tipo de regra para fake news. O caminho para os advogados de defesa é muito mais difícil agora, porque não está mais em discussão se a trama aconteceu ou não. Isso já foi reconhecido no julgamento anterior”, afirmou Bonin.
Um rastro digital incontornável
O colunista lembrou que, ao contrário de outros núcleos, os integrantes da chamada “milícia digital” deixaram rastros incontestáveis nas redes sociais e em aplicativos de mensagem.
“Há fartas mensagens de WhatsApp, posts e conversas que mostram como cada um atuou. Não é invenção — está tudo documentado. Eles tinham como missão desqualificar o sistema eleitoral, desacreditar as urnas e, em última instância, minar a confiança nas instituições”, explicou.
A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), ressaltou Bonin, descreve como esse grupo articulava ataques coordenados, espionagem de agentes públicos e campanhas de desinformação para alimentar a narrativa golpista que culminou nas invasões de 8 de janeiro.
“Segundo a PGR, o caminho do golpe passava por fazer o país deixar de acreditar na Justiça Eleitoral, no Judiciário e no Congresso. Era uma operação para corroer a legitimidade das instituições e preparar o terreno para uma ruptura”, disse o jornalista.
Condenações à vista
Bonin destacou ainda que o sentimento predominante entre os ministros do STF é de novas condenações pesadas.
“Pelo que se percebe no Supremo, o desfecho deve repetir o padrão da primeira leva: penas duras contra os bolsonaristas que aderiram à trama”, afirmou.
O julgamento, que ocorre no plenário virtual do Supremo, pode se tornar um marco para futuras decisões envolvendo desinformação e ataques coordenados a instituições democráticas.