Foram cinco décadas de angústia até que os familiares, amigos e fãs do pianista Tenório Jr. tivessem uma conclusão sobre o seu verdadeiro paradeiro. O músico desapareceu em Buenos Aires, em março de 1976, durante uma turnê pela América Latina com Vinícius de Moraes e Toquinho, dias antes do golpe militar que assolaria o país vizinho ao Brasil em uma ditadura. Somente em setembro deste ano é que o corpo do instrumentista pôde ser identificado, por meio da comparação de digitais – trabalho realizado pela Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF) – e confirmado pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP).
Em homenagem a carreira meteórica do pianista, que escreveu seu nome na história da música brasileira com apenas um álbum, o “Embalo”, Caetanos Veloso, Gilberto Gil e Joyce Moreno realizaram, nesta quarta-feira, 01, na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro, um ato musical em sua memória.
Na ocasião, além do presidente da instituição, Aloizio Mercadante, também prestigiaram o evento, o integrante da EAAF responsável pela coleta das impressões digitais, Lucas Guanini, a professora de psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e filha de Rubens e Eunice Paiva, Vera Paiva, a ativista de direitos humanos Elena Zafaroni e a representante da filial de Tucumán das Mães da Praça de Maio, Sara Mrad.
“Eu nunca imaginei que eu veria uma música do meu avô sendo tocada ao vivo. É um momento muito importante para a nossa família. Dar uma conclusão bonita e alegre para uma história que foi tão violenta e trágica”, afirmou Sofia Cerqueira, que em seu discurso compartilhou a dor de não ter conhecido o avô. “Acho que era algo que a gente nem tinha mais esperanças de que fosse ter essa resposta, já tinha passado tanto tempo”, contou, emocionada.
Ao longo do ato, Caetano fez revelações sobre os planos interrompidos dos artistas em fazer uma colaboração. “O Tenório ia muito em minha casa, insinuando que a gente fizesse um disco – que ele fizesse as coisas de músico do disco que eu fosse fazer. Ficamos com esse plano, que nunca se concretizou.”, lamentou.
Ao longo de toda a noite, o público se emocionou com as intervenções musicais. Os momentos mais marcantes foram as apresentações de “Se eu quiser falar com Deus” e “Cajuína”, interpretadas por Gil, “Minha voz, minha vida” e “Você é Linda”, por Caetano. Outro destaque foi a versão única de “A Felicidade”, escrita por Tom Jobim e Vinícius de Moraes, por Joyce Moreno, com intervenções de outras letras, como Aquarela do Brasil.