Em 1996, uma tragédia aconteceu no topo do mundo, no Monte Everest. Embalados pela ganância dos altos preços pagos para que alpinistas amadores desafiassem a maior montanha do mundo, dois dos maiores alpinistas da época conduziram dois grupos para uma esperada tragédia. Jon Krakauer não só escreveu o livro sobre a fatídica expedição, chamado “No Ar Rarefeito”, como foi um dos poucos a sobreviver a essa louca jornada.
O preparo para que se chegue em algo tão distante envolve um minucioso planejamento, como condicionamento físico, detalhes da expedição e uso de equipamentos adequados. Do contrário, fica-se pelo caminho ou nunca se chega lá. Toda essa preparação pode ser comparada ao projeto de um país, por exemplo, que para ir longe tem que idealizar, estudar e ensinar.
Estou em uma grande jornada na China, país próximo ao Everest e, por aqui, ninguém se aventurou a subir sem antes se planejar.
Há 50 anos, a China era um país com centenas de milhões de pobres alpinistas despreparados, que morriam não por falta de oxigênio, mas por fome. Falo muito dessa terrível doença chamada obesidade, mas sempre voltarei nessa trágica e inaceitável condição chamada fome, que em geral envolve um único responsável: o governo. Os líderes dessa expedição chamada China sabiam que iriam enfrentar uma longa montanha para chegar até o cume e tirar esses alpinistas dessa situação e prepará-los. Eles estavam com fome, cansados, em cabanas, estradas de barro, sem transporte, recursos e com roupas inadequadas, e nesse caso, não era apenas um grupo e, sim, uma nação.
Na trágica história da montanha da morte, não houve qualquer planejamento, estudo ou preparo, pois todos só pensavam no sucesso e no dinheiro. Numa situação dessa, não podemos contar somente com a sorte.
A falta de planejamento para essa escalada, que deveria ser prioridade em todo o país, certamente causará riscos e desastres em proporções muito maiores.
Um movimento começando pela educação, treinamento, dedicação e disciplina foi iniciado na China. E já era sabido, pois foi estudado, que a escalada para a montanha do resolver a fome e o crescimento da nação seria longa, muito longa, mas chegariam ao cume de forma segura, sem alardes e alimentados.
A prioridade não era a roupa dos alpinistas com logomarcas famosas, as botas caras ou óculos de marcas. A preferência era dar abrigo, comida e educação aos miseráveis alpinistas chineses que por séculos vagavam sem direção.
O caminho envolveu rotas muito controversas: pessoas morreram, líderes mostraram-se muito rigorosos no caminho que estavam seguindo, mas havia centenas de milhões a serem salvos e isso era a prioridade.
Oitocentas milhões de pessoas saíram dessa terrível montanha, sem fome, com uma casa para morar, roupas quentes para vestir e cabanas, quero dizer, escolas para educar seus filhos. Os mais preparados seguiram a jornada e chegaram ao cume. Talvez, sejam até julgados por terem hoje suas botas, casacos e óculos de marca, mas antes disso souberam cuidar, proteger, educar e alimentar aqueles que ainda não chegaram ao topo, mas que também terão a chance pois estão sendo educados e qualificados para isso.