O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou nesta quinta-feira, 7, que pretende assumir o controle militar de toda a Faixa de Gaza, apesar das crescentes críticas internas e externas sobre a guerra no enclave e a potencial ocupação. Ele sublinhou, no entanto, que não se trataria de uma anexação, uma vez que o território seria eventualmente entregue nas mãos de um órgão militarizado composto por “forças árabes” que a governará adequadamente.
Questionado em entrevista à Fox News se Israel assumiria o controle de toda a faixa costeira de 42 quilômetros, Netanyahu respondeu: “Pretendemos.”
“Não queremos mantê-la. Queremos ter um perímetro de segurança. Não queremos governá-la. Não queremos estar lá como um órgão governante”, ele explicou. “Queremos entregá-la às forças árabes que a governarão adequadamente, sem nos ameaçar, e (dar) aos moradores de Gaza uma vida digna”, afirma.
Abordando as preocupações da comunidade internacional, Netanyahu enfatizou que Israel “não anexará Gaza” e planeja transferir o controle do território para um “órgão governante transitório”. Ele não deu detalhes sobre qual órgão seria esse.
Reunião de gabinete
A declaração ocorreu horas antes do gabinete de segurança israelense se reunir para uma discussão focada em prosseguir ou não com uma ocupação militar em ampla escala de Gaza. O gabinete foi convocado após uma tensa reunião de três horas na terça-feira 5 com o chefe das Forças Armadas, Eyal Zamir, que desaconselhou Netanyahu a tomar controle total do enclave e se recusou a expandir a ofensiva.
O Exército israelense afirma controlar cerca de 75% de Gaza. A maior parte da população, de cerca de 2 milhões de habitantes, foi deslocada diversas vezes nos últimos 22 meses, e grupos de ajuda humanitária alertam que os moradores do enclave estão em risco de catástrofe alimentar aguda. As Nações Unidas classificaram os relatos sobre uma possível expansão das operações militares de Israel como “profundamente alarmantes”.
Pesquisas de opinião mostram que a maioria dos israelenses quer que a guerra termine com um acordo que preveja a libertação dos reféns restantes. Um levantamento feito pelo jornal local The Times of Israel revelou que 53,2% rejeitam a anexação de partes da Faixa de Gaza, enquanto 38,9% apoiam a ocupação. Outros 7,9% estão indecisos. O governo de Netanyahu insiste na vitória total sobre o Hamas, que deu início ao conflito com seu ataque mortal contra Israel em outubro de 2023.
Protestos
Mais cedo nesta quinta, cerca de vinte familiares de reféns em posse do Hamas embarcaram num protesto em barcos, partindo da cidade litorânea de Ashkelon, em Israel, em direção à fronteira marítima com a Faixa de Gaza. Eles pediram a libertação imediata dos cativos por meio de um acordo de cessar-fogo, exigindo o fim da guerra no enclave.
Ainda há 50 reféns em posse do Hamas, dos quais, segundo autoridades israelenses, 20 estão vivos. A maioria dos libertados até agora ocorreu em decorrência de negociações diplomáticas. As tratativas para um novo cessar-fogo, que poderiam ter resultado semelhante, fracassaram em julho.
Os participantes da frota, bem como outras famílias de reféns, convocaram um protesto para esta noite em Tel Aviv, em frente ao gabinete de Netanyahu, e outro em Jerusalém.
“Netanyahu explorou a minha dor, a dor das famílias, a dor do povo e sabotou um acordo. Ele mentiu para mim. Ele mentiu para todos nós. Netanyahu não tem intenção de trazer nossos filhos para casa”, disse Einav Zangauker, mãe de Matan, que também está detido em Gaza, em mensagem de vídeo à imprensa.