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“Não podemos desistir”

Canadense conhecido pela atuação radical em defesa dos oceanos, Paul Watson, de 74 anos, vem para a 30° Conferências das Partes sobre a Mudança do Clima (COP30), em Belém, que acontece em novembro, onde participa como palestrante. Sua contribuição consiste na experiência de meio século de trabalho árduo em defesa dos direitos dos animais e de conservação do meio ambiente. Watson dedicou a existência em nome do ideal e muitas vezes  arriscou a própria vida e nome dele. Watson tem pouca esperança nas mudanças que a conferência do clima possa trazer, mas ao mesmo tempo é enfático ao dizer que “não podemos desistir”. “Ética da Vida – Saúde como ecossistema planetário” é o tema do painel, que participa, no dia 14, às 16h, que reconhece a Terra como organismo vivo e a saúde como equilíbrio entre espécies, oceanos, florestas e cidades.

O ambientalista foi um dos fundadores do Greenpeace, mas, em 1977, por discordar das abordagens não intervencionistas, saiu para criar outra organização: a Sea Shepherd Conservation Society, ONG que utiliza ações diretas para combater a pesca ilegal, a caça de baleias e outras atividades prejudiciais ao ecossistema marinho. Polêmico e determinado, Watson já foi alvo de mandados de prisão e críticas por suas táticas agressivas, mas também amplamente reconhecido por chamar atenção internacional para crimes ambientais e inspirar uma nova geração de defensores dos oceanos. Em entrevista à Veja, contou as expectativas sobre a COP, a visão sobre a exploração do petróleo na Amazônia e a importância do trabalho pelo meio ambiente em todas as esferas da sociedade.

Soube que o senhor acabou de lançar um novo livro sobre biocentrismo? Sim, lancei na França.  Ele trata da necessidade de mudança da nossa visão de como vivemos e sobrevivemos no planeta. O homem não está no centro de tudo. A sobrevivência dele depende da harmonia com todas as espécies vivas.

O senhor vem ao Brasil para a COP30 como palestrante. É a sua primeira vez no país? A primeira vez foi em 1989, quando estive com os índios Kayapó, para fazer um projeto no Xingu. Também estive na conferência Rio-92, e, desde então, voltei várias vezes. O barco da organização (Sea Shepherd Conservation Society, associação é co-fundador) já partiu da Tunísia rumo a Belém, para chegar antes do início da conferência do clima. Eu ainda estou em Paris, em meu barco-casa.

Quais são suas expectativas com a viagem ao Brasil? Quero falar com muitas pessoas e também ir à Amazônia. Mas não tenho nenhuma expectativa com a COP30. Em todas os encontros passados, os avanços foram muito pequenos. Eu espero que o Brasil tenha uma liderança forte para endereçar soluções a questões importantes.

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Apesar de sediar o maior evento do clima do planeta, o Brasil vai explorar petróleo na Amazônia. Qual sua opinião sobre isso? A indústria de combustível fóssil é o grande motor do aquecimento do clima. Não vejo essa iniciativa brasileira como um progresso. Precisamos de formas alternativas de combustível, não podemos continuar a explorar petróleo. Agora explorar petróleo na Amazônia, não acho uma boa ideia. É mais uma pressão para uma área de proteção e aumenta as preocupações que já existem ao longo da costa brasileira, como excesso de pesca e poluição.

No ano passado, a temperatura passou o limite de 1,5°C estipulado pelo Acordo de Paris.  Esse foi o grande alerta de que é preciso fazer algo maior? Precisávamos ter feito algo grande nos últimos 75 anos. Todos estão cientes dos prejuízos causados pela indústria de energia fóssil ao meio ambiente, mas não foi feito nada. O problema é que os políticos não tomam nenhuma iniciativa contra o aquecimento do clima porque é seria uma medida impopular com as empresas de combustíveis fósseis.  Em algum momento o mundo terá que tomar grandes decisões ou a natureza fará isso por nós. Se chegarmos a esse ponto, teremos uma experiência pouco prazerosa. A diminuição da diversidade das espécies levará a um colapso ecológico, onde não teremos mais recursos para repor. E o colapso ecológico não é música para o futuro da humanidade.

O que é mais difícil, lutar contra a caça das baleias ou contra o aquecimento do clima? Você sabe que diferentes organizações se encarregam de diferentes problemas e de diferentes formas. Você sabe que a força de um ecossistema é a diversidade. Portanto, a força de qualquer movimento está na diversidade. Ele pode acontece por meio da educação, da legislação e do ativismo, por exemplo. O importante é se envolver de alguma forma. Quando você olha para alguém como Jane Goodall (primatologista) e David Attenborough (naturalista), o “approach” é educação. Eles têm um ótimo trabalho com isso. A Sea Shepard faz ativismo como forma de intervenção em leis internacionais de conservação. Tem advogados que tratam disso nos tribunais. Mas o que realmente precisamos, mais do que nada, são políticos com coragem, imaginação e paixão para realmente lidar com esses problemas e fazer diferença.

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A paixão pela luta ativista continua a mesma? Sim, não podemos desistir. Acho que nada mudou em meio século que tenho de luta.

Leia:

+https://vejario.abril.com.br/coluna/lu-lacerda/paul-watson-preso-ano-passado-fala-no-rio-ocean-week/

+https://veja.abril.com.br/coluna/veja-gente/ambientalista-lanca-livro-sobre-historia-da-preservacao-ambiental/

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