Você já se viu dizendo “sim” cedo demais?
Começou um namoro antes de saber se havia conexão de verdade? Contratou alguém na pressa porque a vaga precisava ser preenchida? Ou fechou com o primeiro fornecedor que atendeu o telefone, porque “não dava mais pra esperar”?
Na superfície, parece praticidade. Mas, por dentro, pode ser só medo.
Medo de ficar sozinho, de errar, de não ter resposta, ou de lidar com o desconforto de ainda não saber.
Se você já se viu nesse lugar, eu entendo. Eu também já estive lá.
E, na clínica, atendo muitos pacientes que confundem urgência com prontidão. Por isso, sei que precisamos falar sobre esse impulso de agir movido pela ansiedade.
“Bom o bastante” é mais seguro do que esperar?
Recentemente, atendi uma cliente que me disse:
— Eu só quero encontrar um psiquiatra que tenha horário. Qualquer um serve.
Vamos chamá-la de Maria.
Enquanto ela fala, seus ombros estão tensos e o olhar, cansado. Ela vem há semanas tentando marcar novas consultas depois que o psiquiatra anterior se aposentou. Mas só de pensar em recomeçar — contar tudo de novo e criar vínculo — seu peito aperta.
Maria me diz que quer resolver logo:
— Não importa se gosto do médico, Luana. Eu só quero acabar com minha ansiedade.
Conheço bem esse lugar: o momento em que o desconforto de não ter certeza fala mais alto que o desejo de escolher bem.
Então, respiro fundo e pergunto:
— Maria, e se, antes de casar com o primeiro que aparece, você só marcasse um encontro?
Ela ri, surpresa, e pergunta:
— Você quer dizer… sair pra jantar com o psiquiatra?
— Não — eu rio junto. — Quero dizer experimentar. Conhecer dois ou três antes de se comprometer.
Ela topa, e eu vejo um alívio diferente nascer ali: não o alívio rápido da decisão apressada, mas o sossego que vem quando percebemos que dá para respirar antes de escolher.
A ciência explica nossa pressa para decidir
Nosso cérebro detesta a incerteza. Quando algo é novo ou desconfortável, ele aciona um alarme interno. É o nosso sistema de proteção dizendo: “Isso pode dar errado. Melhor decidir logo.”
É aí que mora o perigo. Porque, muitas vezes, essa pressa não vem da clareza, mas da ansiedade.
Decidimos rápido não porque estamos prontos, mas porque queremos que o desconforto acabe.
Esse padrão tem nome: evitação psicológica.
Em vez de sustentar a dúvida e esperar que mais informações apareçam, nosso cérebro nos empurra para o que parece mais seguro agora. Mesmo que seja apenas “bom o bastante”.
No fundo, é uma tentativa de controle. Como se fechar uma decisão rápido fosse garantir estabilidade. Mas o que a ciência mostra — e a clínica confirma — é que evitar a dúvida não elimina o risco, só esconde a nossa insegurança por trás de uma falsa certeza.
“Namore antes de casar”: 3 ferramentas para escolher com calma
Seja num relacionamento, numa contratação ou em uma escolha importante, você pode testar antes de fechar.
Essas 3 ferramentas vão te ajudar a frear a ansiedade e observar melhor:
- Trate o novo como neutro
Não rotule logo de cara. Observe, faça perguntas e procure identificar padrões.
Com Maria, isso significou conversar com dois ou três profissionais antes de escolher.
No amor, pode ser reparar como a pessoa trata um garçom. No trabalho, pode ser fazer um projeto-piloto antes de assinar um contrato longo.
- Regule a ansiedade antes de decidir
Se você sentir pressa para escolher, pergunte:
“Essa decisão vem da clareza ou da minha vontade de acabar com a incerteza?”
Lembre-se: desconforto não é perigo. É dado.
- Reduza o ritmo
Dê tempo para que os vínculos (profissionais ou afetivos) se revelem.
Esse espaço extra evita que a urgência se disfarce de prontidão.
Tomar decisões com pressa pode aliviar por um instante, mas também pode nos afastar do que realmente combina com a gente.
E a verdade é que o que for para ser seu, vai superar o teste do tempo, não a pressão da ansiedade.
O relacionamento certo, a parceria certa, a escolha certa — tudo isso aguenta ser observado, testado e vivido com calma.
Você já se deu esse tempo? Ou tem corrido para fechar decisões só para não sentir o vazio da dúvida?
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Nos falamos na próxima semana.
Até lá, pratique a coragem de esperar, mesmo quando tudo em você quiser resolver logo.