Sobreviventes, autoridades e enviados estrangeiros se reuniram em frente à Estátua da Paz em Nagasaki, neste sábado, 9, para marcar os 80 anos do bombardeio atômico, homenageando as dezenas de milhares de vítimas.
Em silêncio, o primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, depositou uma coroa de flores, enquanto o Sino da Paz tocava pela primeira vez desde 1945, após um projeto de restauração.
Durante o evento, o prefeito de Nagasaki, Shiro Suzuki, fez um apelo à comunidade internacional para que “interrompa imediatamente os conflitos armados”, alertando sobre o risco crescente de uma guerra nuclear. Representantes de mais de 100 países participaram da solenidade, incluindo Rússia e Israel, que não haviam enviado delegações nos últimos anos.

Shigeko Mori, que sobreviveu à catástrofe, compartilhou sua dor pessoal, lembrando que “o bombardeio atômico não significa apenas que você viu a cena e sentiu o quão assustadora ou terrível ela foi, mas que apenas a tristeza permanece em seu coração por 80 anos”. No ano passado, o Japão ainda registrava 106.825 sobreviventes das bombas atômicas com idade média de 86 anos, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde.
+ 80 anos após a bomba, Hiroshima condena normalização de armas nucleares pelo mundo
Os ataques nucleares ao território japonês aconteceram em 1945, no último ano da Segunda Guerra Mundial. No dia 6 de agosto, um bombardeiro B-29 dos Estados Unidos, o Enola Gay, lançou uma bomba de urânio de 15 quilotons em Hiroshima. Até o final daquele ano, 140 mil pessoas morreriam em decorrência do impacto nuclear. Depois foi a vez de Nagasaki, onde uma bomba de plutônio, apelidada de “Fatman”, deixou 74 mil vítimas fatais. Até hoje, Washington afirma que a ofensiva nuclear foi determinante para a rendição do Japão.
Na quarta-feira, o prefeito de Hiroshima, Kazumi Matsui, também afirmou que os conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio têm contribuído para uma crescente aceitação de armas nucleares como forma de defesa.
“Esses acontecimentos desconsideram as lições que a comunidade internacional deveria ter aprendido com as tragédias da história”, disse Matsui durante seu discurso em frente a Cúpula Genbaku, um edifício que sobreviveu ao impacto da explosão e hoje faz parte do Parque Memorial da Paz de Hiroshima.
Falando diretamente aos jovens, o mandatário pediu que a nova geração reconheça as consequências “desumanas” que a normalização do uso de armas nucleares como forma de dissuasão pode trazer no futuro. “Elas ameaçam derrubar as estruturas de construção da paz que tantos trabalharam para construir”, afirmou.
Apesar da tensão geopolítica global decorrente dos conflitos, Matsui fez um apelo à persistência na busca pela paz. “Nunca devemos desistir. Em vez disso, devemos trabalhar ainda mais para construir um consenso da sociedade civil de que as armas nucleares devem ser abolidas para um mundo genuinamente pacífico”, declarou.
Tensão
Um relatório publicado em junho pelo Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI) concluiu que, em meio a uma instabilidade global, a probabilidade de que armas nucleares possam um dia ser usadas está aumentando. Quase todos os nove países com armas nucleares — Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China, Índia, Paquistão, República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte) e Israel — continuaram programas intensivos de modernização nuclear em 2024, atualizando armas existentes e adicionando versões mais novas.
“A era de redução do número de armas nucleares no mundo, que perdurou desde o fim da Guerra Fria, está chegando ao fim”, disse Hans Kristensen, pesquisador sênior do SIPRI. “Em vez disso, vemos uma tendência clara de aumento dos arsenais nucleares, aguçamento da retórica nuclear e o abandono dos acordos de controle de armas”.
+ Quem são os últimos sobreviventes das bombas de Hiroshima e Nagasaki
Recentemente, o ex-presidente russo Dmitry Medvedev insinuou que Moscou poderia usar o “Mão Morta”, um implacável sistema soviético de retaliação nuclear, contra os Estados Unidos. A sugestão ocorreu após Medvedev, que ocupa o posto de vice-presidente do Conselho de Segurança russo, definir as ameaças de Trump de aplicar tarifas à Rússia e a países que comprarem petróleo do país como “um jogo de ultimatos” que pode levar a uma guerra.
A discussão escalou na última sexta-feira, quando o presidente americano Donald Trump afirmou ter ordenado o posicionamento de dois submarinos nucleares em regiões próximas à Rússia como resposta à Medvedev.
“Com base nas declarações altamente provocativas do ex-presidente russo, Dmitry Medvedev, que agora é vice-presidente do Conselho de Segurança da Federação Russa, ordenei o posicionamento de dois submarinos nucleares em regiões apropriadas, caso essas declarações tolas e inflamatórias sejam mais do que apenas isso”, escreveu Trump em sua rede social, a Truth Social.