O mangaká Nagabe é uma das atrações internacionais da Bienal do Livro do Rio. O autor participa de um encontro com o público neste domingo, às 13h, no palco Apoteose Shell, em um dos momentos mais aguardados do evento. A visita ao Brasil marca também o lançamento de sua obra mais recente por aqui, A Menina do Outro Lado, publicada pela editora DarkSide. O mangá, já cultuado no Ocidente, mistura fantasia e poesia para contar a história de Shiva, uma menina humana, e Sensei, uma criatura de aparência monstruosa que vive isolada por conta de uma maldição. Os dois compartilham o cotidiano em uma cabana afastada da civilização, desenvolvendo uma relação de cuidado, confiança e afeto. Com traços minimalistas, a obra aborda temas como o medo do desconhecido, a inocência e o poder das conexões que ultrapassam as aparências. Pela primeira vez no Rio, Nagabe conversou com exclusividade com a Giro pelo Oriente, da Revista Veja.
O seu traço é marcante, quase melancólico. Como você define o seu estilo artístico? Quais artistas influenciam o seu trabalho? No meu desenho, eu utilizo as cores branco e preto. É inspirado em arte tradicional e ilustrações japonesas. Essa estética me permite trabalhar o contraste de forma mais emocional. Sou influenciado por dois artistas, a pintora e desenhista finlandesa Tove Jansson, e também pelo autor e ilustrador Edward Gorey.
O contraste entre pureza e monstruosidade é central em A Menina do Outro Lado. O que essa dualidade representa? Há duas razões principais. A primeira é o aspecto visual: o contraste entre o preto e o branco ajuda a marcar as diferenças entre os personagens. A escuridão de Sensei e a brancura de Shiva, por exemplo. A segunda tem a ver com a relação entre eles. Quando se encontram, têm uma forma de comunicação própria. Eu queria explorar como dois seres totalmente diferentes (inclusive em aparência) se aproximam e constroem uma história juntos. É sobre o que acontece quando deixamos de lado o julgamento externo.
Há planos de expandir A Menina do Outro Lado para outros formatos, como jogos? Sim. Tenho vontade de dar aos personagens uma nova aparência, talvez inserida em outros formatos. Também sinto a necessidade de me desafiar com projetos novos, embora essa ideia ainda esteja em aberto. Demorei três anos para finalizar A Menina do Outro Lado.
A história de A Menina do Outro Lado evoca temas como exclusão, inocência e medo do desconhecido. Qual é a sua opinião sobre a dualidade do mundo que estamos vivendo? Quando eu criei a obra, não tive intenção específica de abordar esses temas. Não pensei em fazer crítica aos problemas sociais. Porém, quando existe essa diferença de características tão marcantes, surgem dificuldades entre eles. Nessa obra, fiz questão de criar dois personagens que fossem completamente distintos. Por isso, acabei desenhando um com aspecto de criatura monstruosa, outro como ser humano. Quando eles passam a não se preocupar com a aparência, mostram o que resta. Quis desenvolver essa narrativa sobre as pessoas não se preocuparem tanto com a aparência. Desta forma, como seria a relação entre elas?
Quais são os seus novos projetos? Ainda não tem nada decidido e não posso falar muito em detalhes. Estou preparando no Japão, com editora, uma nova série. Posso adiantar que será protagonizada por dois animais. Gostaria de explorar essa emoção e deixar uma história divertida.
Você se surpreendeu com o seu sucesso no Ocidente? Eu sou muito grato por minha obra ser lida no exterior, apesar de não ter dados concretos da minha popularidade. Não sei se as pessoas estão gostando, não consigo acompanhar e ter uma ideia da dimensão. Quero agradecer as pessoas que acompanham o meu trabalho.
Você conhece algum quadrinista brasileiro? Infelizmente, faltou da minha parte essa pesquisa sobre criadores brasileiros. Mas, agora, na visita ao Brasil, devo permanecer por uma semana e gostaria de aproveitar a oportunidade para ter contato com autores brasileiros e fazer esse intercâmbio
Qual é a mensagem que você gostaria de deixar para seus fãs brasileiros? Gostaria que as pessoas utilizassem a mensagem da minha obra para se influenciarem positivamente.