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‘Nada podia doer mais do que não saber quem torturou meus pais’

Em programação paralela na Flip, Festa Literária Internacional de Paraty, na manhã desta quinta-feira 31, o jornalista e escritor Matheus Leitão, colunista de VEJA, participou de um debate na casa Caixa de Histórias ao lado da professora, e também pesquisadora, Patrícia Machado. Matheus comentou sobre como foi lidar com sentimentos pessoais ao escrever sobre a tortura sofrida pelos seus pais durante a ditadura militar. Este é o foco do seu livro Em Nome dos Pais.

“Teve um momento que descobri que precisava escrever sobre os meus pais, havia uma dor que me acompanhava há muito tempo, eu achava que a busca pelos torturadores me ajudaria. Tive ajuda até de psicólogos, porque havia um processo de dor latente em mim. O estado brasileiro tinha que responder para mim quem eram os torturadores dos meus pais. Meu pai tinha 22 anos e minha mãe, Miriam Leitão, tinha 19 quando foram presos. Ela estava grávida do meu irmão, Vladimir. Apagaram todas as luzes e colocaram ela numa cela com jiboias. Ambos foram presos em 1972. Ela foi solta apenas em abril do ano seguinte, e meu pai ainda ficou dois anos em cárcere privado, incluindo uma solitária por nove meses no Rio de Janeiro até 1974. Eu achava que nada podia doer mais do que meu sentimento de não ter o nome desses torturadores, mas estava enganado, estar ao lado deles e ver a frieza deles me doeu ainda mais. Há três palavras no Brasil que temos enorme dificuldade de discutir: verdade, memória e justiça”, disse Matheus.

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