Quem lê as 32 páginas da decisão de Flávio Dino sobre o esquema de corrupção envolvendo verbas do orçamento secreto, fica com a impressão de que a Câmara abrigava, até pouco tempo, uma espécie de banco clandestino de verbas do orçamento secreto.
Como um correntista que liga ao gerente para orientar uma transferência, parlamentares telefonavam para a assessora parlamentar Mariângela Fialek, a Tuca, determinando que milhões do Orçamento fossem para destinos conhecidos apenas por eles, seguindo acordos políticos nebulosos e agora investigados pela PF.
Chega a impressionar a facilidade como parlamentares movimentavam o orçamento público como se donos do dinheiro fossem. Milhões para cá, outros milhões para lá… As ordens eram repassadas à “gerência” do orçamento secreto a partir de mensagens de WhatsApp, telefonemas e até anotações grosseiras, que a PF classificou de “conta de padaria”.
Quando um deputado se recusava a seguir as ordens da gerência desse banco, entrava em cena o próprio “dono” do dinheiro, no caso, segundo os deputados ouvidos pela PF, o então presidente da Câmara, Arthur Lira. Ele teria ameaçado um deputado ao ver um pedido de liberação de 320 milhões de reais para Alagoas recusado.
Em seu despacho, Flávio Dino deixa claro que a Polícia Federal investiga se Tuca seguia ordens de Lira ao atuar no “indevido direcionamento de emendas parlamentares”.
“O exame dos depoimentos transcritos revela que a representada atua diretamente na operacionalização do encaminhamento de emendas, efetuando-as supostamente em nome do ex-presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira. Constatou-se, ainda, que, mesmo após a alteração na Presidência da Casa, ela permaneceu no exercício da função”, diz Dino.
“Tais circunstâncias evidenciam fortes indícios de que a representada integra uma estrutura organizada voltada ao indevido direcionamento de emendas parlamentares, supostamente atuando sob ordens diretas da antiga Presidência da Câmara dos Deputados, exercida pelo deputado Arthur Lira, fato que ainda está em apuração”, segue o ministro.