Durante a COP30, em Belém, o presidente da empresa de petróleo francesa Total Energies, Patrick Pouyanné, destoou do discurso majoritário ao defender que os combustíveis fósseis continuarão tendo vida longa no sistema energético global, sobretudo diante do que considera uma paralisia geopolítica e falta de consenso entre países.
Falando em um evento co-organizado pela presidência brasileira da conferência, Pouyanné afirmou que projeções recentes da Agência Internacional de Energia (AIE), que admitem aumento da demanda de petróleo e gás pelos próximos 25 anos caso governos não avancem em políticas climáticas, são “realistas”.
“Para progredir, preciso olhar para a realidade”, disse o executivo. Segundo ele, cenários energéticos servem como ponto de partida, não como destino final. Pouyanné colocou em dúvida a viabilidade das metas de emissões líquidas zero até 2050.
“Para chegar ao net zero, seria necessária uma união sagrada de todos os países, o que claramente não é o que observamos.”
Ceticismo climático e pressões jurídicas
O executivo evitou associar diretamente eventos climáticos extremos às mudanças provocadas pela queima de combustíveis fósseis.
Questionado sobre reparações às populações atingidas por desastres, disse apenas que “furacões sempre existiram” no Golfo do México e no Caribe, embora reconheça que haverá mais eventos no futuro.
Cientistas da rede World Weather Attribution concluíram que o furacão Melissa, o mais forte já registrado na Jamaica, se tornou seis vezes mais provável devido ao aquecimento causado por atividades humanas.
“Não sou cientista, não posso julgar”, afirmou. Apesar disso, disse acreditar que o mundo é “capaz” de limitar o aquecimento a 2,4°C ou 2,5°C acima dos níveis pré-industriais, acima do limite de 1,5°C defendido pela comunidade científica.
TotalEnergies, Shell e outras petroleiras enfrentam número crescente de ações judiciais ligadas à relação entre combustíveis fósseis e eventos extremos. A Total perdeu recentemente um processo por greenwashing na França.
Debate sobre financiamento e transição
Enquanto isso, os países em desenvolvimento pressionam na COP30 por mais financiamento para adaptação — especialmente após eventos como o furacão Melissa — e o Brasil tenta articular um “roteiro” global para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis. Pouyanné, porém, minimizou a proposta. “Isso é uma visão europeia de como governos deveriam funcionar”, disse.
O executivo participou de um painel ao lado de representantes da Petrobras, com quem mantém parcerias no Brasil. Ele defendeu a presença da indústria na COP. “Se ficarmos no nosso canto, apenas produzimos petróleo e não dialogamos. Não é esse o ponto.”
Força do lobby fóssil e presença corporativa
A COP30 registra participação recorde de lobistas ligados aos combustíveis fósseis: 1.600 dos cerca de 56 mil inscritos, segundo análise da ONG Global Witness.
Entre os executivos inscritos estava Vicki Hollub, CEO da Occidental Petroleum, além de representantes de grandes tradings de commodities, como Cargill, Mercuria e Louis Dreyfus
. Bancos globais envolvidos em mercados de carbono, como BNP Paribas, Standard Chartered, Deutsche Bank e Bank of America, também enviaram equipes.
O Brasil busca capitalizar esse ambiente. O país já recebeu cerca de US$ 5 bilhões em promessas para o fundo de proteção florestal de US$ 125 bilhões que planeja lançar com apoio do Banco Mundial, mas dependerá de bancos e gestoras para decolar.