Em meio às negociações em torno de um possível cessar-fogo entre Israel e o grupo militante palestino Hamas, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, foi recebido na segunda-feira, 7, pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na Casa Branca. Durante o encontro, ambos retomaram publicamente um controverso plano de expulsão de palestinos da Faixa de Gaza, afirmando que Tel Aviv e Washington estão buscando países que aceitem receber a população deslocada.
“Estamos trabalhando com os EUA para encontrar países dispostos a concretizar o que sempre dizem: que querem dar aos palestinos um futuro melhor”, disse Netanyahu, que visitou Trump pela terceira vez desde que o republicano voltou à Presidência americana, em janeiro. “Isso se chama livre escolha. Sabe, se as pessoas querem ficar, elas podem ficar, mas se querem ir embora, elas devem poder ir embora”, completou.
Trump, que no início deste ano causou indignação quando lançou sua ideia de realocar palestinos e assumir o controle da Faixa de Gaza para transformá-la em uma “Riviera do Oriente Médio”, disse que houve “grande cooperação” sobre o assunto por parte dos “países vizinhos”.
A proposta foi condenada pela comunidade internacional. O Escritório de Direitos Humanos da ONU, com sede em Genebra, afirmou que “qualquer transferência forçada ou deportação de pessoas de território ocupado é estritamente proibida”.
Depois do encontro entre os líderes, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, deu mais detalhes sobre o plano. À imprensa, ele afirmou que o objetivo é juntar todos os palestinos de Gaza — mais de 2 milhões de pessoas — em acampamentos em Rafah, cidade mais ao sul do enclave palestino, onde todos passariam por uma “triagem de segurança” e, depois de entrarem, não teriam mais permissão para sair.
A ofensiva militar israelense em Gaza matou mais de 57 mil palestinos, deslocou quase toda a população de 2,3 milhões de pessoas e reduziu grande parte do território a escombros, provocando uma grave crise humanitária.
O grupo islâmico está sob imensa pressão há alguns meses e, nos últimos dias, Israel intensificou sua ofensiva, lançando uma intensa onda de ataques aéreos ao enclave. Neste domingo, 6, ataques israelenses deixaram ao menos 38 mortos. De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, oitenta pessoas foram mortas e 304 ficaram feridas em ataques israelenses nas últimas 24 horas.
Com a liderança militar dizimada, combatentes foram forçados pelo Exército isralense a deixar antigos redutos nas regiões sul e central de Gaza e passaram a atuar de forma descentralizada, com ordens para apenas resistir o máximo possível. Além das divisões internas, o Hamas encara incertezas quanto ao futuro do apoio de Teerã. Saeed Izadi, comandante da Guarda Revolucionária Iraniana (IRGC) responsável pela coordenação com os palestinos, foi assassinado num ataque durante a guerra aérea de doze dias entre Israel e Irã, o que deve abalar o fornecimento de recursos e treinamento militar para o grupo em Gaza.
Cessar-fogo
Na semana passada, Trump anunciou que Tel Aviv havia aceitado uma proposta americana para uma trégua de sessenta dias. Poucas horas depois, o grupo militante palestino Hamas entregou a mediadores do Catar e do Egito uma devolutiva “positiva”, que deve “facilitar a obtenção de um acordo”, mas impasses ainda persistem.
Quando anunciou a proposta na terça-feira – que chamou de “final” –, Trump disse, sem dar detalhes, que o plano suspenderia as hostilidades no enclave por sessenta dias, período durante o qual seriam feitos esforços para encerrar o conflito em definitivo. O jornal al-Araby, do Catar, indicou que o Hamas concordou com os “pontos principais” do plano, mas pediu modificações no texto antes de dar seu aval.
No dia seguinte, porém, o governo israelense rejeitou quaisquer mudanças, e Netanyahu enfatizou no domingo que a delegação despachada ao Catar para uma nova rodada de negociações indiretas tinham “instruções claras” para chegar a um acordo, mas sem fazer concessões.
Segundo Trump, Israel já deu seu OK para o acordo, mas fontes próximas ao grupo palestino haviam afirmado à Reuters que seus membros buscavam garantias mais fortes de que qualquer pausa nas hostilidades levaria ao fim permanente da guerra de 20 meses, assim como à retirada completa de tropas israelenses de território palestino. O acordo também prevê a entrada imediata de ajuda humanitária em Gaza.
A proposta, segundo documentos das negociações vistos pela emissora americana CNN, inclui a libertação de dez reféns israelenses vivos, mantidos em Gaza desde o ataque do Hamas ao sul de Israel em outubro de 2023, que desencadeou o conflito, e a devolução dos corpos de mais dezoito. Em troca, prisioneiros palestinos mantidos em prisões israelenses serão soltos.
O Hamas capturou 251 reféns durante o ataque de 2023. Acredita-se que menos da metade dos 50 que permanecem em Gaza estejam vivos.
A guerra em Gaza foi desencadeada em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas lançou um ataque surpresa ao sul de Israel, matando cerca de 1.200 pessoas, a maioria civis, e fazendo 251 reféns. O Hamas ainda mantém cerca de 50 em cativeiro, mas acredita-se que apenas cerca de vinte estejam vivos.