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Muito além do Açaí: A dor e a delícia de Belém na COP30

Assim que foi anunciada como a cidade que vai hospedar a COP30, a conferência do clima, com uma expectativa de 60 mil visitantes durante 10 e 21 de novembro, Belém ganhou protagonismo. A capital do Pará entrou no radar não apenas para quem vai desembarcar na região amazônica para o evento, mas também na agenda daqueles que apreciam o turismo gastronômico. Ali se come peixe muito fresco (tucunaré, tambaqui, pirarucu, filhote), camarões, caranguejo e frutas como bacuri, jambu e especiarias vindas diretamente das comunidades ribeirinhas.

Apesar das centenas de críticas sobre a falta de infraestrutura, hotéis com valores exorbitantes e saneamento básico deficiente, empreendedores locais estão preparados para mostrar que a estratégia de trazer as discussões sobre a sobrevivência do planeta para o Brasil foi acertada. “Não somos exóticos. Qualquer cidade tem problema e é importante que saibam. A visibilidade pode trazer soluções e Belém está vivendo uma nova Belle Époque”, diz o chef belenense Thiago Castanho, referindo-se à época próspera do ciclo de extração da borracha, a partir do final do século 19 e início do 20.

Com a cultura da comida no sangue, os pais criaram, dentro de casa, o restaurante Remanso do Peixe há quase três décadas; o irmão Felipe tem a padaria artesanal Nauta e ele conduziu o Remanso do Bosque por dez anos e, há nove meses, abriu, com sócios, o Puba, um bar instalado em um casarão histórico de 1916, onde a mandioca é a estrela. “Aqui tudo gira em torno dela, é um pedaço de resistência e símbolo do trabalho que faço com as comunidades, incentivando a produção sustentável”, diz o empreendedor que muda o cardápio todo dia e já tem reservas feitas para participantes do evento.

Além de tornar famoso o tubérculo indígena, Thiago faz parcerias com outros produtores, como Izete dos Santos Costa (dona Nena), a Filha do Combu. Ela transformou o cultivo de cacau no quintal em um negócio atrativo localizado na ilha do mesmo nome, a 15 minutos de barco do centro da cidade. Ali, ela vende chocolate sem gordura trans e promove imersões com degustação. Em junho, com a atenção já gerada pela COP 30, a empregadora de muitas mulheres recebeu o ministro do Trabalho e Assuntos Sociais da Alemanha, Hubertus Heilk, interessado em conhecer o seu trabalho para facilitar investimentos.

Para quem quiser conhecer um pouco da cultura criativa e da história de Belém, o espaço São José Liberto é um antigo convento e presídio transformado em espaço cultural pelo governo paraense com museu de gemas, capela e lojas que vendem joias feitas com tucumã, com a fibra extraída da palmeira amazônica pelos indígenas com saberes ancestrais, sem danificá-la. As peças geram renda para comunidades e tem forte valor simbólico de resistência cultural e manejo cuidadoso da floresta.

E para finalizar o passeio na cidade que deve ter a temperatura girando em torno de 29 graus à época da COP 30, a Cairu, que já foi considerada uma das melhores sorveterias do mundo por um concurso italiano, oferece iguarias criadas com frutos locais: taperebá, muruci, açaí, uxi, tapioca (R$ 18 reais a bola) e o sorvete criado para a COP 30, que leva castanha-do-pará, pistache e doce de cupuaçu. A dica é visitar a unidade da Estação das Docas, que tem um pôr-do-sol maravilhoso com jeito de cartão postal. Para Thiago Ramos, da Favo Hospitalidade, Belém ainda pode valorizar muito os seus insumos naturais, como o feijão manteiguinha, o aviú e o tucupi. “Existem comunidades indígenas que têm peixes desconhecidos e dificuldade de falar com chefs e toda a cadeia produtiva”, diz o belenense. Sua dica para curtir sua cidade natal é visitar o parque Mangal das Garças, uma ótima oportunidade para conhecer a fauna e flora local. Afinal, é sobre isso que as conferências do clima fazem alertas: a preservação da vida e dos tesouros da humanidade.

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